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Vivamos o presente voltados para o futuro, mas com os pés no passado – 190ª Comunicação

                 A revista Veja, edição 2.743 de junho de 2021, trata de uma entrevista com o presidente do Supremo Tribunal Militar, Gen. Mattos (73 anos de idade, 50 anos de serviço). Perguntado sobre a sua avaliação do governo do presidente Bolsonaro, disse uma frase enigmática, que só o tempo revelará seu real significado: “Não tenho dúvida de que estão esticando demais a corda. Quem está contra, logicamente, vai esticar essa corda, como se diz, até que ela arrebente. “ Assim se inicia um período caótico e de consequências imprevisíveis. O que foi previsto é a colheita do que foi plantado. 

       Repassemos alguns fatos que demarcaram duas épocas que darão novo rumo ao país. O dia 25 de junho de 2021 é uma data que pode ser considerada um divisor de águas para as oitivas da CPI do Senado. Os depoimentos vinham sendo atropelados com reiterados fatos que tinham por objetivo ridicularizar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, criando um ambiente constrangedor. 

   Com a oitiva dos irmãos Miranda, Luís Claudio Miranda, deputado federal pelo DEM-DF, e Luís Ricardo Miranda, funcionário público por concurso, do Ministério da Saúde, convidados para prestarem depoimentos à CPI do Senado, o que se viu foram relatos de acontecimentos de crimes lesa-pátria, de consequências imprevisíveis. 

 Mas o que se passa nesse mundo da desigualdade social cria um ambiente de submundo e reflete nos destemperos sociais. 

  O primeiro dia de julho de 2021, na oitiva de um suposto e rico empresário, representante da vacina indiana Covaxim, o Sr. Paulo Dominguette Pereira foi escolhido para tirar de foco o que se apurava: referia-se a um vídeo que punha em dúvida as graves acusações dos irmãos Miranda. Acontece que o tiro saiu pela culatra. Com o celular apreendido, e com a presença inesperada do Dep. Miranda, a cilada foi desarmada e fortaleceram-se os argumentos que darão novo rumo à tumultuada CPI.

  Quem é esse Sr. Dominguette? Trata-se de um cabo da polícia militar de Minas Gerais, da ativa e com 11 anos de serviço, que deveria estar em Alfenas, segundo o que se apurou. Esse fato, sem pé e sem cabeça, é uma demonstração de que conseguiram inverter o que representa a hierarquia e disciplina para o militar.

  Esse ambiente caótico e perigoso ocorreu após a abertura de inquérito contra o presidente Bolsonaro para apurar suposto crime de prevaricação no caso da vacina indiana Covaxin, envolvendo superfaturamento e vultosas propinas. Outros hediondos crimes vão se tornando uma perigosa rotina. 

  03 de julho de 2021 foi dia de protesto contra o governo Bolsonaro em 17 estados da União.  No dia 24 de julho novos protestos aconteceram em todos os estados e em onze países. Povo na rua é alerta para a classe política. 

 Vivenciamos um clima de “Guerra Fria”, que se reflete com intensidade na CPI e no STF. O que vem acontecendo atualmente são fatos que provocam crises após crises, numa velocidade surpreendente e perigosa. Os últimos acontecimentos exigem diálogo e união de propósitos. O país não suporta as constantes ameaças que abalam os alicerces institucionais.

  No dia 07 de julho, na oitiva do Sr. Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, suspeito de cobrar propina na compra de vacinas, o presidente da CPI, Senador Omar Aziz, devido à sucessão de comprovadas mentiras, numa surpreendente decisão, deu ordem de prisão ao depoente. O ato teve um desfecho normal; após depoimento prestado à Polícia Legislativa, que estipulou a multa de R$1.100,00, foi liberado. O que causou temeridade foi a acusação do Senador Omar Aziz, chamando de “lado podre das Forças Armadas” possíveis envolvidos com supostos crimes em negociações para a compra de vacinas. “Esse episódio foi respondido com uma nota de repúdio, por tratar-se de acusação grave e infundada e, sobretudo, irresponsável”, diz a nota, assinada pelo Ministro da Defesa, Gen. Braga Neto e pelos três comandantes militares (dados retirados do jornal Correio Braziliense, de 8 de julho de 2021). Esse ambiente de guerra fria não é bom sinal. O que vem acontecendo nas sessões investigativas dá o que pensar. 

  No dia 09 de julho, numa tentativa de incendiar o tenso ambiente de guerra fria, o presidente Bolsonaro insultou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, com palavras já costumeiras, e ameaçou as eleições de 2022. A reação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi imediata: “Todo aquele que pretender algum retrocesso ao estado democrático de direito será apontado pelo povo brasileiro e pela história, como inimigo da nação.” Por sua vez, o insultado ministro do TSE, disse que o ocorrido pode levar ao enquadramento na Lei de impecheament. 

     O que acontece nas oitivas da CPI do Senado é uma sucessão de crises que nos convidam a aprender a rir para não chorar.

        No dia 14 de julho de 2021, o presidente Bolsonaro, ator principal do que se passa de trágico nos bastidores da política, estava internado no Hospital das Forças Armadas devido a problemas intestinais. Após avaliações clínicas, foi transferido para o Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, para submeter-se a um tratamento especializado. Após a alta, em 18 de julho (domingo), volta aos costumeiros ataques à CPI e ao STF. 

    Voltemos às oitivas: no depoimento do vendedor autônomo de vacinas, Cristiano Machado, foram revelados fatos estarrecedores, que na certa exigirão dos membros da CPI entrarem num campo minado, pelas revelações que envolvem autoridades militares. Com citações nominais de oficiais superiores, apresentando provas das acusações, descortinam-se novas ondas de um delicado e perigoso período, capaz de provocar acontecimentos de consequências imagináveis. Trata-se, portanto, da continuação do que foi visto como divisor de águas, nas revelações dos irmãos Miranda, que compareceram como convidados. No caso do Cristiano Machado, foi convocado para esclarecer a sua participação nas malditas propinas, envolvendo milhões de dólares. Há de se ressaltar que o depoente não se eximiu de ter cometido os crimes para os quais fora convocado. 

     À proporção que avançam as provas do envolvimento de membros do governo, sobretudo de militares, nas investigações em andamento na CPI do Senado, apesar do recesso parlamentar e a ameaça de uma nova onda do Covid 19 transmutado, o governo encontra uma maneira para confundir o já confuso Estado Democrático de Direito. É neste ambiente de incerteza, que o presidente Bolsonaro envia, ao Senado, pedido de recondução do Procurador Geral da República, Augusto Aras, ignorando a lista tríplice da Associação dos Procuradores da República (ANPR) representando 70% do colegiado de procuradores. Ameaças de golpe voltam ao palco dos acontecimentos. 

        O país encontra-se separado por um muro da vergonha.

 

Atenciosamente,

Oto Ferreira Alvares

Comentários

  1. Oremos e vigiemos, pois os tempos estão chegados, amigo Oto.

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  2. Parabéns pela resenha. Faltou constar que o pedido de recondução do Procurador Geral da República, Augusto Aras, ignorou a lista tríplice da Associação dos Procuradores da República (ANPR) representando 70% do colegiado de procuradores, porque a referida lista tríplice não está prevista em lei. Portanto, o Presidente Bolsonaro agiu corretamente.
    Em relação à CPI, seria muito melhor que ninguém assistisse ou desse audiência a esse circo de palhaços.
    Não é o Presidente Bolsonaro quem está atacando à CPI e STF, mas o contrário, infelizmente.

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