O preço da liberdade é a eterna vigilância. Para cada marco histórico, envolto em profundas crises, há e houve lideranças para atuarem em diferenciados propósitos. Assim é que Joana D’Arc e Gandhi, dois mártires nacionais, em épocas e circunstâncias diferentes, estão no mesmo patamar de um César ou de um Hitler. O momento histórico é que determina o surgimento de legítimas lideranças, heróis, mártires ou algozes.
A nossa história registra figuras exponenciais, que atuaram em épocas de ameaças à liberdade e à unidade nacional. Como exemplo de extremo patriotismo, entre tantos outros vultos, as figuras maiúsculas, que bem definem o que é ser patriota, Tiradentes e Duque de Caxias se sobressaem. Tiradentes, como o precursor da independência, o arquiteto da liberdade; Duque de Caxias, como herói no campo de batalha e como PACIFICADOR de províncias rebeladas.
O que vimos até aqui, é a introdução de um período nebuloso e de contradições temerárias. São crises sobre crises, uma sequência de absurdos jamais imaginados.
Repassemos alguns fatos, citando comunicações deste blog.
1) Estamos vivenciando atualmente um caos simulado em que prevalecem a mentira, o desprezo aos valores morais e aos direitos humanos (172ª Comunicação).
2) A propaganda política antecipada de um chefe de estado é um veneno que atinge a representação popular, fundamento da verdadeira democracia, na sua essência constitucional, hoje totalmente desfigurada (178ª Comunicação).
3) Infelizmente, o que presenciamos é uma série de ações e omissões que comprovam a tática utilizada: dividir ainda mais a já dividida população, para mudar o foco dos acontecimentos. O destino tarda mas não falha. Nada vem fora do tempo. Ao Supremo Tribunal Federal e à Comissão de Inquéritos do Senado (CPI), estão reservados os papéis que marcaram a história contemporânea (189ª Comunicação).
4) As duas extremas ideológicas (esquerda e direita) são igualmente desastrosas e têm o mesmo objetivo: sustentar um populismo que ignora a realidade (179ª Comunicação).
5) Conjugue-se esse estado anômalo com a crise que se arrasta desde o ano de 2008, uma crise sem precedentes, cujos efeitos podem desestruturar a economia global, da qual fazemos parte e dependemos em demasia. A Previdência Social anda esquecida. Se já era insuportável a crescente dívida acumulada nos últimos anos, o que dirá do que se passa com a previdência nesses tumultuados dias (186ª Comunicação).
6) Passado um ano da última Assembleia Geral da ONU, 21 de setembro de 2021, o presidente Bolsonaro volta ao palco da ONU, como representante de um Brasil ofuscado pelo vexaminoso autoritarismo de um contestador de tudo e de todos, com um discurso voltado para o seu público interno. Acontece que as reações vindas do STF, ministros Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e de diversas instituições e proeminentes autoridades interromperam temerárias consequências, que ainda assim persistem.
7) A Operação Lava-Jato está caindo no esquecimento. O que representa como combate à corrupção, lavagem de dinheiro e tantos crimes lesa-pátria, ressurgirá com o vigor de um Sansão, cujo poder concentrava-se nos cabelos. No caso da Lava-Jato, este poder descomunal está presente na voz do povo. O tempo é o senhor do destino.
O momento atual é crítico. Muito mais crítico do que deixa transparecer. O que mais preocupa é o confronto de irreconciliáveis pontos de vista de doutrinas ideológicas. A desordem e a anarquia foram definitivamente instaladas.
O que se passou na CPI do Senado foi a tentativa de tumultuar o ambiente para desqualificar depoimentos e provas que, a cada dia, ficavam mais robustas. São tentativas tolas de querer denegrir as imagens do que representam o STF e a própria CPI, como instituições que visam dar um basta a um caos provocado. Há de se ressaltar a competência e coragem dos inquisidores e a atuação excepcional da representação das mulheres senadoras.
Uma ameaça que não pode ser ignorada: a revista Veja, edição 2752 de 25 de agosto de 2021, trata de uma entrevista com o ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública, Raul Jungnann, durante o governo Michel Temer. Nela, relata fatos que dizem respeito ao que se passa no governo do presidente Bolsonaro, com alerta sobre o momento caótico que atravessamos, que pode ser sintetizado com a seguinte frase: “Ele propõe jogar brasileiros contra brasileiros. No limite, isso tem o nome de guerra civil.” Vamos a um fato que bem define o que se passa. “Pela primeira vez os comandantes da Aeronáutica, Marinha e Exército foram demitidos. Eles não se dobraram... O que motivou a demissão? O respeito à Constituição. Ele chamou um comandante militar e perguntou se os Jatos Gripen estavam operacionais. Com a resposta positiva, determinou que sobrevoassem o STF acima da velocidade do som para estourar os vidros do prédio. Bolsonaro mandou fazer isso, tenho um depoimento em relação a isso. Ao confrontá-lo com o absurdo de ações desse tipo, eles foram demitidos.”
Essa fatalidade macabra descrita se completa com outra entrevista: a revista Veja, edição 2757, de 29 de setembro de 2021, que traz na capa o retrato do presidente Bolsonaro. Refere-se a uma longa entrevista do presidente, e traz como chamamento a seguinte frase: “Vai ter eleição, não vou melar.” Essa frase não corresponde ao que se deduz da leitura da entrevista. Sem comentário! As palavras ocas, que tentam desclassificar o que se passou na CPI após a confirmação da data para apresentar o Relatório Final, são de desespero. Sem uma saída honrosa, as ameaças confirmam as previsões da entrevista do ex-ministro Raul Jungnann. Estamos num beco sem saída.
Obs: No dia 20/10/2021 foi lido, pelo relator, Senador Renan Calheiros, o Relatório, votado no dia 26/10.
Diante de um quadro em que o imprevisto já era previsto, não há como se prever o que acontece e está para acontecer. Não se leva em consideração a necessidade de se buscar soluções urgentes para que o país saia de um caos provocado, de consequências trágicas, em que a desigualdade e o negacionismo predominam. A CPI do Senado comprovou essa triste realidade. O país está a exigir medidas impeditivas ao prosseguimento de uma sangria sem controle. O momento é de mudar de rumo. Para que isso aconteça, a palavra mágica é planejamento. Lembramos de que os livros Mosaicos da Sociedade Brasileira, acrescidos de livros escritos em outros tempos, destinaram-se ao que acontece na atualidade, conforme várias precognições.
Encerro esta resenha elucidativa com duas observações: 1) Por interesses mútuos, esquerda e direita estão no mesmo barco, prestes a afundar. 2) O que se passa nas oitivas da CPI do Senado, com direito de o depoente permanecer calado, e até mentir inescrupulosamente, é o reflexo de uma sociedade decadente. A frustrada comemoração do Sete de Setembro, com um mar de gente colorida, é o fim do começo, ou o começo do fim. “Nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem o oculto que não haja de saber-se”, Mt, 10:26.
Atenciosamente,
Oto Ferreira Alvares.
Seus comentários são bastante sóbrios, amigo Oto, mas o caso Maurício nos faz pensar...
ResponderExcluirGrande abraço,
Jorge