63ª Comunicação (Postado em 28/06/2014)
Realidade
O tempo continua sendo de espera, conforme nos
referimos no artigo anterior.
Como é difícil assimilar uma realidade como a
que estamos mergulhados desde junho de 2013, quando um movimento social
independente e espontâneo — infiltrado pelo grupo denominado Black blocks,
violento e predatório do patrimônio público e privado, portanto, uma exceção
aos propósitos dos manifestantes — protestou contra o estado de calamidade
pública a que chegamos, com uma corrupção escandalosa que corroia os cofres
púbicos e o comprometimento de autoridades dos três poderes da República. Pelo
visto, foi o primeiro grito de alerta aos desmandos e abusos autoritários que
agiam sob orientação ideológica, obedientes às ordens ditadas pelo Foro de São
Paulo. Ficou claro, a seguir, após o desfecho do julgamento dos envolvidos no
denominado “mensalão”, que se tratava de investidas para abrir caminho que
levaria à tomada do poder, segundo a cartilha gramsciana (Antonio Gramsci,
membro fundador do Partido Comunista Italiano). Lá não deu certo, aqui daria,
não fosse a presença histórica do presidente do Supremo Tribunal Federal,
Joaquim Barbosa, que abortou o esquema em andamento. Queiram ou não, o seu nome
ficará registrado na história como o intrépido e incorruptível relator do
processo que deu fim a uma trama ideológica. Com a sua aposentadoria, tudo pode
voltar à estaca zero.
Atravessamos um momento de
turbulências em que legendas políticas e ideológicas procuram, a qualquer
custo, a permanência no poder. O futuro é incerto, uma vez que forças até então
inertes, ou neutras, ainda indefinidas, aguardam silenciosamente o momento para
se posicionarem como juízes capazes de impor o controle das ações em litígio.
Estas forças têm por missão evitar que caminhemos cabisbaixos rumo ao caos
social. As ameaças estão aí, muitas vezes revestidas de questões raciais, como
a demarcação de terras indígenas e quilombolas, ou outros meios de se
incentivar a luta de classes. Os movimentos revolucionários, revestidos de
movimentos sociais, começam a tomar corpo. O País não pode ser tragado, mais
uma vez, pela irracionalidade. Infelizmente somos um povo dividido quanto aos
acontecimentos. A maioria só enxerga o que lhe interessa, pouco se importando
com o futuro do País. “Isso não é de minha alçada”, dizem. Para estes vale a
pena lembrar que “povo que não sabe o que quer é povo condenado a aceitar o que
não quer.”.
A Copa do Mundo da FIFA, que seria
motivo de extravasamento do sentimento de nacionalidade, como sempre foi,
tornou-se uma bandeira da discórdia e contestação aos gastos públicos,
comparados à ineficiência de infraestruturas básicas, principalmente às que
mais afetam as classes sociais inferiores, quanto à renda: saúde, segurança,
transporte, educação e moradia. O emocional coletivo, como resultado de uma
pressão que transcendeu ao aspecto de disputa esportiva influiu, e muito, no
jogo que abriu as oitavas de final entre o Brasil o Chile. O resultado só veio nos
pênaltis. Será que este estado de insegurança é uma demonstração de como estamos
a depender do futebol para injetar ânimo no que se passa na política?
É triste constatar que nem mesmo o
futebol, paixão enraizada em todas as classes sociais, escapou de servir de
motivo para reativar os protestos, retomando o ímpeto de contestações que
pareciam amenizadas. Isso é um mau sinal. Mas nos dá ânimo para continuar na
luta.
Misticidade
No livro Memória
Mística, tantas vezes citado neste Blog, contém textos rotulados de
“Divagações Filosóficas”. Dentre eles há um apropriado para o momento atual.
Permitam-me transcrever trechos dele:
“È Hoje? ... “O
hoje é meramente um marco na contagem do tempo. Os fatos relevantes fixam-se na
consciência social e os triviais se diluem no próprio tempo. Fixemo-nos, aqui,
aos fatos excepcionais, capazes de mudar o rumo da História. A intensidade dos
eventos-causas determina como serão os eventos-efeitos. Tudo é questão de
oportunidade na determinação, precisa ou imprecisa, do desempenho dos
acontecimentos.
A imprecisão dos fatos
indica também a insegurança dos meios utilizados para as devidas correções.
Consumado o imprevisto, dilui-se o planejado.
Nestes casos instala-se o arbítrio — nem que seja provisório — ou
degenera-se em anarquia. O combate sistemático aos fatos degenerativos da vida
social exige sacrifícios, (in) justiças e acomodamento ao tempo. Urgem-se
soluções. E nestas condições, fora de um contexto racional e até mesmo ilógico,
essas soluções não desejadas medram natural e robustamente. E são desencadeadas
por pessoas que transformam radicalmente os seus comportamentos. Ninguém
aparece fora de seu tempo. Surgem então lideranças forjadas em outros ambientes
e preparadas para atuarem em momentos de crises. Equilibram-se o bem e o mal e
o processo evolutivo instala-se. Mais uma vez as aberrações vêm à tona: guerra,
genocídio, fome, peste e toda espécie de extermínio e sofrimento. E como isso
se deu? E como isso se fez?
À História cabe apenas
a narrativa dos fatos, dentro de um prisma meramente formal e sintetizado. Às
futuras gerações caberá analisá-los à luz da razão de novos conhecimentos, que
só hão de chegar no seu devido tempo.
Até lá, contentemo-nos em sermos espectadores e expectadores. De uma
coisa se tem certeza: não se sabe o dia do amanhã se baseando unicamente no que
se passa no dia de hoje. O hoje é emotivo. O amanhã é tempestivo. Vivemos de um
dia para outro o contraditório. Se tudo está de acordo com as previsões, o
controle pela personalidade é absoluto. Caso contrário, quando o que se passa
não se prende à harmonia do tempo, produz-se o efeito de um resultado não
imaginado. É aí que se sucumbe a racionalidade. O que é racional praticamente
deixa de o ser, cedendo lugar ao imprevisto. Estas mudanças imprevistas e
absurdas têm também um caminho. E caminho consentâneo com o desenrolar dos
fatos. Quando isso se dá não é pela razão que vamos encontrar explicações
plausíveis, mas no próprio ilogismo do acontecimento. Aí só nos resta uma
alternativa: apelar para um plano superior, um desígnio que a nossa temperatura
intelectual ainda não pode alcançar.
Trata-se do Plano de Deus. Quando isso acontece vemos como é frágil a
nossa cultura esotérica, incapaz de ver com os olhos da matéria e projetá-la no
mundo do espírito, ou vice-versa.
Os planos se sobrepõem e nesta sobreposição o homem,
diminuto e mesquinho, só pode visualizar a sua própria sombra. Sabe que existe a luz, mas não consegue
vislumbrá-la. Ouve os sons, mas não sabe
de onde vêm. E aí só lhe resta uma saída: a fértil imaginação. Se as religiões
se entendessem, saberiam que as suas verdades só se completam com outras
verdades. A unidade se resguarda solenemente nas características e diversidade
interplanetárias. A fraternidade universal é ilimitada e exige a humildade do
diálogo e da mútua interpretação.
... E aqui retomamos novamente a prevalência de
nossas imperfeições. Os tempos ainda não são chegados. ...”
“Brasília-DF, 18 de abril de
1990.”
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