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Uma Realidade nada Confortável

                                                                                             70ª Comunicação
A indiferença dos afortunados quanto a tristeza dos excluídos, a verdade e a mentira, a prudência e o desatino, a lucidez e a falsidade, a paz tão almejada e a situação de insegurança, tudo isso são fatores preponderantes para uma profunda reflexão: Como encarar situações tão antagônicas?  Rindo ou chorando? Infelicidade é isso: sentir que o desespero e o medo tornaram armas eficazes para conquistar votos. 
            Vivemos num mundo em que tudo gira em torno do poder econômico. De uns tempos para cá esta hipótese tornou-se mais evidente. A economia é que demarca a necessidade de mudanças em toda engrenagem do Estado. Acabamos de entrar em recessão técnica (queda do PIB em dois trimestres seguidos).  E o que vemos nestes dias tumultuados são sinais de um tempo nebuloso: a desaceleração da economia promove outros distúrbios na gestão do Estado: o endividamento da população, por exemplo, é um deles, pois afeta o consumo que, por sua vez, desorganiza o orçamento, outro monstrengo que exige ser repensado.
O poder econômico, portanto, é o ponto nevrálgico de qualquer governo, tantas vezes redundando em falências de Estados com reflexos na soberania e forte depressão econômica. Além de ser uma das causas dos contrastes, resulta na deplorável miséria de um povo submetido aos rigores de um totalitarismo disfarçado.
O capitalismo como é praticado na atualidade sofre as consequências de vícios que impedem ou desvirtuam os seus princípios básicos: a livre iniciativa está sob ameaça constante; a meritocracia se vê driblada por meios fraudulentos; a concorrência, reguladora da produção e comercialização dos bens destinados ao consumo, sofre a influência de um Estado que lhe restringe a legitimidade da competição, com uma carga fiscal exorbitante. Neste capitalismo acéfalo tudo é permitido, até mesmo que em cada mandato presidencial a política econômica se adapte aos interesses dos novos mandatários, que o manipula segundo interesses de ocasião. Em momentos de crises o que interessa é safar-se das responsabilidades, sempre fugindo das causas originárias e das consequências danosas.   
Mas não é só a economia que vai mal: o sistema penitenciário está falido; a política salarial é provocadora de conflitos; o excesso de veículos sem a devida infraestrutura de apoio, transporte público insuficiente, estacionamento escasso, engarrafamento, sem se falar nas outras deficiências sempre em evidência: Saúde Pública, Educação, Segurança e por aí vai. 
                Até mesmo a democracia, como regime político, sofreu e vem sofrendo um processo degenerativo. A demagogia é a sua bandeira. Sem alarde, lentamente, em seu nome, estamos vivenciando a farsa da liberdade plena, uma boa maneira de acobertar velhos e surrados vícios que degradam a sociedade. Tem sido alvo das investidas ideológicas, uma tática prevista e em plena marcha, dando espaço para desmoralizá-la com a inversão dos valores, sob a complacência e aderência de um povo alheio ao que se passa, além do passar dos dias. Portanto, há uma conjugação de fatores que contribui para que a nefanda marcha rumo ao “comunismo democrático (?)” alcance os objetivos previstos, inclusive a desativação dos mecanismos que poderiam impedir o seu prosseguimento. Diante de um quadro delicado e comprometedor das futuras gerações, o País está a exigir que medidas sérias sejam tomadas para retomada de um ciclo de desenvolvimento sustentado e contínuo, em que haja o combate efetivo às desigualdades, cujos extremos são vergonhosamente expostos. Infelizmente somos uma sociedade dividida. Ignora-se propositalmente que somos o País dos contrastes. Como chegamos a tal ponto? Uma das principais causas está na falta de uma política salarial que resolva definitivamente os gargalos que provocam atritos, sobretudo greves e movimentos reivindicatórios como imposição, dando pouca oportunidade de se manter diálogos racionais. As organizações com maior poder de pressão, geralmente representações acorrentadas ideologicamente às centrais trabalhistas, agem como se fossem braços disponíveis para uma luta de classes. Com boa representação política, estabelecem o que bem entendem. Esta prática se transformou em pressão social, promovendo as organizações sindicais e movimentos ditos sociais, em instrumentos da política ideológica. Esta triste realidade impede que se debatam planos de carreiras justos. Não há como fugir da lógica dos mais fortes. A atual política salarial tornou-se uma constante fonte de injustiça e impedimento de um avanço voltado para a valorização do trabalhador, e não apenas do trabalho elitizado. Este ponto de vista abrange tanto o trabalhador público quanto as organizações privadas. As greves e movimentos reivindicatórios foram fortalecidos pelos movimentos que usam as passeatas para interromper estradas e vias públicas, induzindo a queima de ônibus e destruição do patrimônio público e privado. Enquanto isso os escândalos continuam. As revelações que estão vindas a público envolvem assuntos de segurança nacional. Isso dá o que pensar.
Estamos em plena campanha eleitoral em que o País é visto com olhos estrábicos, com a imagem deformada, como se tudo estivesse na mais perfeita ordem. É o que é passado para o eleitor desprovido de conhecimento quanto à realidade política, embrutecida e enodada por ausência da ética, criticada e execrada pela opinião pública. Os marqueteiros políticos usam de sofismas e artifícios que nos dão a impressão de que preferimos, como povo, acreditar e concordar com o que nos é apresentado, e não no descaso para com as necessidades de um país que pede por socorro.  O momento é próprio para uma reflexão sobre o perigo de não observarmos os constantes alertas que soam aos nossos ouvidos e distorcem a visão com imagens deformadas, como que a estimular propósitos que ignoram a necessidade de revermos valores que se sucumbiram sob o peso de privilégios mal adquiridos. Estes só enxergam os seus interesses, na ânsia desmedida de preservar conquistas e obter novas vantagens. Assim chegamos aonde chegamos: estamos diante de um Estado deformado pelo excesso de burocracia, de ministérios, do inchaço das metrópoles e esvaziamento dos municípios que pararam no tempo, incapazes de se manterem por conta própria, sempre endividados e dependentes de fundos de participação e outros recursos que se tornaram imprescindíveis para tocar um barco furado. A preocupação maior da classe política tem sido criar novos meios de se manter os vícios incorporados a uma desastrosa prática de acomodação. Uma penúria premiada.
Não tem sido fácil encarar uma realidade que ninguém, de sã consciência, desejaria que acontecesse. Não foi por acaso que senti a necessidade de comentar notícias nem sempre agradáveis, sobre o andamento de precognições que me levaram a escrever livros destinados ao País, sem precisão de datas, mas com fatos explícitos. Daí a obrigação de alertar para possíveis distúrbios devidos à inoperância das instituições, desgastadas por pequenas reformas que nada resolveram. 

Para mim não tem sido nada confortável tratar de assuntos previstos em precognições, mas não posso deixar de lembrar que as referências aos assuntos tratados nos Mosaicos da Sociedade Brasileira são antigas. As consequências, por mais estranho que pareça, são atuais. Obs.: Ver as últimas linhas do artigo anterior.

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