Num mundo ameaçado, tanto ambientalmente quanto embrutecido pela não observância de princípios religiosos, morais e éticos, resultando numa falta de solidariedade e respeito ao próximo, o homenageado teria de possuir qualidades excepcionais. Em primeiro lugar, obreiro das coisas de Deus. Em segundo plano, qualidades raramente disponíveis entre os seres humanos: dedicação irrestrita ao próximo, conselheiro, salvador de almas e homem capaz de, na adversidade e na bonança, viver e transmitir sentimentos tão díspares, com sinceridade e lealdade fraternais, tanto nos momentos alegres e descontraídos, quanto nas lágrimas sentidas pelo irmão que sofre nos momentos de dores e desesperos, próprios de uma guerra, em pleno campo de batalha. Além de tantos predicados, possuir a coragem de um guerreiro, a liderança de um chefe militar e a humildade de um santo.
E quem seria essa figura com qualidades tão excepcionais?
Estamos nos referindo ao patrono do Serviço de Assistência Religiosa (SAR) do Exército Brasileiro e das Forças Armadas e Auxiliares (SARFA), o Capitão Capelão Padre Antonio Álvares da Silva, mais conhecido pelo nome da Ordem Franciscana, Frei Orlando, tragicamente morto nos gélidos campos da Itália, no dia 20 de fevereiro de 1945, em Bombiana.
Como primeiro passo para alcançar a grandeza de caráter desta figura ímpar, transcreveremos uma poesia de autor desconhecido:
FREI ORLANDO
(Acróstico)
Foi chamado para a luta ao som do clarim...
Resignado e alegre, Frei Orlando seguiu,
Envergando uma farda em defesa da Pátria,
Indo as almas guiar, para a guerra partiu.
Onde quer que estivesse a dor ou a morte,
Reanimando e consolando, aí estava também.
Largando sua vida à mercê da sorte
Achando seu sacrifício fazer grande bem.
Na alma de um irmão, caro e amigo,
Deu ele para isso, seu sangue, sua vida,
Oferecendo-se ao Senhor, sem temer o perigo.
Até que um dia, em missão sacerdotal,
Levando aos moribundos o último conforto,
Varou-lhe o coração uma arma fatal!
Agonizante, cai com a mão sobre o peito,
Rezando ... conhece seu estado mortal.
Expira, em seu posto, o bom franciscano,
Sua alma de escol passa à vida imortal.
Desaparece do front ... os soldados choram
A perda daquele que encontrou seu ideal!
Seus amigos, tão longe da pátria saudosa,
Inumaram seu corpo em plagas italianas.
Lá, junto de Deus, está a sua alma venturosa,
Velando por nós e pela Ordem Franciscana,
Aponta-nos o Céu, nossa morada gloriosa.
Frei Orlando nasceu no distrito do Junco (hoje, Frei Orlando), município de Morada Nova de Minas, em 13 de fevereiro de 1913. Uma das características de Frei Orlando era o seu temperamento bem humorado e brincalhão, contrapondo-se aos revezes de uma vida marcada por tantos acontecimentos fatídicos: com um ano de idade perde a mãe, Jovita Aurélia da Silva; aos três anos o pai, Itagiba Álvares da Silva, morre assassinado. Foi criado, como se filho fosse, pelo casal Sebastião de Almeida Pinho e D. Emirena Teixeira Pinho. Assim, mesmo diante de uma adversidade madrasta, aprendeu a vivenciar uma solidariedade que marcaria os passos de sua vida.
São João Del Rei, cidade que o adotou como dileto filho e proporcionou-lhe tão nobre e honrosa distinção, ad aeternum, lembra e reverencia aquele frade que lutava para manter a sopa dos pobres e seu especial carinho para com as pessoas submetidas aos flagelos das carências, do corpo e da alma. Na guerra ou na paz, soube honrar o sacrossanto nome de São Francisco de Assis, “O menestrel errante de Deus”, que também viveu intensamente os horrores de uma guerra.
Como definir este santo-guerreiro da paz?
Duas citações, entre tantas outras, retratam aspectos de uma vida dedicada a Deus, ao próximo e à Pátria.
1 – Frei Orlando, com o seu modo espontâneo de exteriorizar o bom humor para amenizar as dores da vida — corpóreas ou sentimentais —, encontrou a forma ideal para desempenhar papéis tão contraditórios: o de incentivador para encarar desafios e, ao mesmo tempo, o de consolador, nos infortúnios sem volta. Daí ter deixado escrito: “Passei pela vida rindo, embora tivesse muitos motivos para chorar.”
2 – Convidado por oficiais amigos para participar de uma reunião festiva (farra), na cidade de Pisa, aquiesceu ao pedido. Ao invés de vestir a farda, como lhe fora recomendado, Frei Orlando apareceu de batina. Desapontados, o protesto foi geral. A reação do capelão foi imediata: “Saibam os senhores, meus patrícios, que, onde não pode entrar este hábito, também não pode e não deve entrar a farda do Exército.”
Estão aí duas versões de uma personalidade que marcava presença, tentando contemporizar os extremos da vida em sociedade. Assim era Frei Orlando.
Formação Sacerdotal
De 1925 a 1931 frequentou o Colégio Seráfico de Divinópolis-MG; de 1931 a 1935 estudou na Holanda. Naquele país ingressara na Ordem Franciscana, cursou teologia e emitiu votos solenes. Em 1937 recebeu ordens eclesiásticas.
Homenagem póstuma
Pelo Decreto Nº 8.921, de 26 de janeiro de 1946, Frei Orlando foi declarado patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército Brasileiro; Pelo Decreto Nº 20.680, de 28 de fevereiro de 1946, foi declarado, oficialmente, patrono do serviço de Assistência Religiosa das Forças Armadas e Auxiliares.
Nota do autor
Os dados da resumida biografia de Frei Orlando, aqui postos, inclusive a poesia de autor desconhecido, foram pesquisados no livro do Ten. Gentil Palhares, publicado pela Biblioteca do Exército no ano de 1982 – “Frei Orlando, o Capelão que não voltou.”.
Com tantas razões e diante da humildade franciscana de Frei Orlando, sinto-me no dever cívico de compartilhar esta pequena, mas justa e sincera homenagem, aos integrantes da imorredoura Força Expedicionária Brasileira (FEB), das três Forças Armadas, dos que por lá ficaram, quanto daqueles que tiveram a venturosa sorte de retornarem ao solo pátrio, com vida.
A todos nossos heróis, reconhecidos ou anônimos, genuflexo, rendo esta homenagem especial e presto a minha continência.
Atenciosamente,
Oto Ferreira Alvares
Justa homenagem muito bem redigida
ResponderExcluirBela homenagem, Seu Oto.
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