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Brasil em Termos de Brasil


                                                                          (Décima sétima Comunicação)

Fonte: Ainda do mesmo livro mencionado no artigo anterior. (Radiografia ...)
             
BRASIL EM TERMOS DE BRASIL

            “Os fatos que transformam os destinos dos povos se modificam segundo o curso dos tempos, até se fixarem nas páginas da História. Os acontecimentos traçam o destino de um povo, porém se modificam segundo a vontade participativa deste mesmo povo. Assim foi e assim deve ser. O tempora! O mores! (ó tempos! ó costumes!).
            Nunca é demais lembrar que o Brasil é um país onde os contrastes estão sempre presentes. Um país de dimensão continental, com variedades de clima, de solo, de relevo topográfico. Somos um povo diferente, miscigenado, predominantemente marcado por culturas regionais. Somos o único país sul-americano de língua portuguesa e também o único que teve uma experiência monárquica. No entanto, os nossos potenciais, humanos e naturais, se perdem nos desvãos de uma cultura política, desvinculada de uma realidade tão contrastante. Nunca se pensou o Brasil em termos de Brasil. Temos uma lógica imitativa extravagante e irracional. E sempre fomos castigados pelo peso desta política. É como se quiséssemos conquistar o céu, ignorando os preceitos que levam ao aperfeiçoamento moral do homem. O que nos interessa é ingressar no primeiro mundo!
            É dentro desta ótica que vamos abordar a participação do povo nas decisões nacionais.
            A grande maioria do povo brasileiro, lamentavelmente, não tem acesso aos meios de comunicação social, sobretudo os escritos — livros, jornais e revistas —, portanto, está semi-alienada do processo de participação consciente nas decisões que determinam o nosso destino, como Nação livre e soberana. E isso por fatores que vão desde a impossibilidade financeira até o analfabetismo, permeando pela cultura da não participação.
            De uma minoria que poderia ser ativa, a quase totalidade é indiferente ou não se sente em condições de influir nas grandes decisões nacionais. A pequena parcela dessa já minguada minoria, que de fato participa, defende pontos de vista ideológicos ou está ligada a interesses econômicos. Aqui se formam os movimentos de pressão, explícitos e velados. São os “lobbies”. E estes os há em todo mundo. Mas, no Brasil, há forças que preponderam sobre as forças representativas da Nação, uma vez que o poder político, infelizmente, acabou desvinculando-se dos interesses nacionais. Estão presentes nos lobbies explícitos, aqueles que ocupam as galerias do Congresso Nacional ou Assembléias Legislativas estaduais, formam passeatas e tendem a uma pressão pela força, física e psicológica. São grupos de manobra, geralmente profissionais, aptos a contagiar a grande massa desenformada, com chavões ou palavras de ordem.
Mas, a grande e perigosa força, de fato decisiva e absoluta, é formada pelos “lobbies” velados, que atuam nos bastidores do poder. São forças que defendem os grandes interesses, nacionais e internacionais, sem nenhum compromisso com a nação brasileira ou com um desenvolvimento humanizado. Agem pela força invisível do poder econômico, cuja razão chama-se dólar.”
            ...
            Estamos tentando compor o quadro onde se operam reformas constitucionais, quando, na verdade, procura-se compensação de um fracasso.
...
“A Constituição de 1988 tem cérebro parlamentarista e corpo presidencialista, com os membros deformados pelo excesso de casuísmo. Uma quantidade enorme de artigos ainda não foi regulamentada e, em conseqüência desta não regulamentação, uma infinidade de leis complementares seria necessária. Infelizmente a nossa Constituição foi gerada em clima perverso, onde o essencial era apagar vestígios do “entulho autoritário”, numa montagem irreal de um momento de transição. Num confronto ideológico encontrou-se um consenso entre interesses tão díspares. E deu no que deu: uma Constituição que atendeu a todos, menos aos interesses do País.
            ...
                “O que estamos tratando, apesar de serem fatos do passado, é o reconhecimento de que ainda estão muito presentes na atualidade. Façamos uma análise destes dispositivos:

Nas Disposições Transitórias faziam-se duas exigências que bem salientavam a incerteza de sua praticabilidade: um plebiscito com data certa, 7 de Setembro de 1993, e uma revisão com data apenas mencionada, “após cinco anos, contados de sua promulgação.” Não há dúvidas de que a vontade do constituinte era para que houvesse a revisão, e isso fica claro com o verbo ser no futuro, “será realizada”. E tinha uma razão de ser. Realizado o plebiscito, fosse qual fosse o resultado, essa exigência era necessária. Seria um mecanismo para adaptar a Constituição à nova forma de governo ou sistema político, livremente escolhido pelo povo, pois, parece que propositadamente, conservara tópicos dúbios. Como ganhou o presidencialismo, o advérbio “após” deixou de ter um significado imediatista e passou a ter uma interpretação mais adaptável às circunstâncias do momento político.”           
            (Texto base: artigo publicado no Jornal de Brasília, em 02/12/93)

            Atualizando: Hoje em dia não mais se fala em revisão constitucional, pois as reformas procedidas não têm caráter de atendimento às reais necessidades do Estado, isso, nos mais variados setores da vida nacional. E nem tampouco que se restabeleça princípios morais, hoje eivados de vícios “democraticidas”. O revanchismo ideológico, infelizmente, atua em sentido contrário aos interesses nacionais.
            Pensemos nisso!...  

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