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Corrupção dos Costumes

                              (Décima sexta Comunicação)        





          Fonte: Livro Radiografia de uma Nacionalidade Desnuda – Editora Verano, Brasília-DF, 2000.
            Este livro trata de análises abrangentes, resultado de observações publicadas em jornais, sobretudo no Jornal de Brasília, na coluna Opinião, em que o autor escrevia artigos com o título de Resenha da Atualidade. Dentre os mais variados e polêmicos assuntos, tece comentário sobre uma nova política municipalista, destinada a fortalecer os municípios, descentralizar os poderes e dar maior flexibilidade à administração pública, federal, estadual e municipal. Este assunto faz parte de comentários do primeiro livro dos Mosaicos, (Problemas Institucionais e Sugestões). Vamos ao que nos propusemos.   

CORRUPÇÃO DOS COSTUMES

            “No mundo da fantasia infantil não há lugar para a vitória do vilão, nem da supremacia dos instintos inferiores. É um mundo onde o bem se sobrepõe ao mal e cria uma compensação aos caprichos perversos e mórbidos próprios da natureza humana, ainda transvestida do egocentrismo que determina a realidade. Vivemos sob a égide das imperfeições individuais, refletindo sobre o comportamento social.
            Atravessamos uma crise como todas outras que sugeriram uma avaliação comportamental das sociedades. Vivemos uma crise que dela podemos tirar proveito, justamente por ser um momento de redirecionamento das regras sociais. Caso contrário, se nada for feito, tornar-se-á uma crise suicida.
            Tentemos desvendar este enigma, aqui posto:
            A nossa geração foi marcada por transformações profundas, na tecnologia e na ciência. Os meios de comunicação de massa deram ao homem a ilusão do conhecimento superficial e, ao mesmo tempo, a dúvida sobre a sua importância, num mundo tão complexo. A partir desta dúvida todos os valores foram questionados. O homem comum foi posto diante dos fatos como mero espectador. Aos poucos se foi tornando insensível com a desgraça alheia e restringindo-se ao seu mundo, mais imaginário do que real. Transformou-se numa matéria maleável, facilmente adaptada a outras vontades, com interesses e objetivos próprios. Os costumes, a moral, a ética, a religiosidade e o civismo foram torpedeados nos seus nascedouros: na família e na escola. A família tradicional tornou-se instituição arcaica. Houve uma revolução nos costumes: sexo livre, uso de drogas, contestação aos padrões de convivência sociais estabelecidos e a prática de uma liberdade sem responsabilidade.
            Na administração pública e na política aperfeiçoaram-se técnicas de enriquecimento fraudulento. As empresas se adaptaram à fragilidade das instituições e passaram a comandar os critérios para prestação de serviço e consecução de obras. Todas as atividades governamentais, de um modo geral, estão em crise. Não há planejamento que corrija as deficiências em expansão.
A mídia reproduz, diariamente, o mesmo cardápio absurdo: homicídios com ocultação de cadáveres ou macabras formas de se inviabilizar o reconhecimento do morto; estupros seguidos de morte; fratricídios e outros “cídios” imaginados; seqüestros, linchamentos; mortes com requintes de crueldade; suicídios; métodos para se fazer dependentes de produtos alucinógenos; verdadeiras guerras entre quadrilhas de sofisticadas organizações ligadas ao tráfico de drogas; contrabandos; prostituição de menores; levantes em penitenciárias, geralmente com mortes; invasões de propriedades, públicas e rurais privadas (fazendas); saques a supermercados, criteriosamente planejados; e nos anos de eleições, achincalhamento à honra alheia, com o fim de desprestigiar opositores, etc.
            Jornal de circulação nacional, em página destinada à adolescência, dá instrução de como se usar a “camisinha”, ilustrativamente, além da propaganda do produto, com um exemplar, na própria página.  Resultado: tentaram formar uma sociedade livre, igualitária e sem preconceitos. Estão criando uma anti-sociedade, insegura e preconceituosa.
            Está aí uma meia verdade. Meia, porque a sociedade não é só isso que alguns pensam que ela seja. Um percentual muito maior do que se imagina ainda guarda aqueles princípios morais inquestionáveis, valores que não se alteraram com o engodo que se tenta implantar, em nome de um falso conceito de desenvolvimento. Pessoas que praticam as suas religiões; que cumprem os mandamentos cívicos; que ainda comemoram bodas de casamento; que não se promiscuíram com as facilidades da desorganização social; que não se deixaram corromper com as oportunidades surgidas; que não acreditaram na magia fascinante da luxúria e do prazer extravagante, ao alcance de dólares, muita vez, mal adquiridos. Esta meia verdade virtuosa está aí vigilante, embora inerte, por lhe ter sido calada a voz, com potentes meios de comunicação de massa.
            Quanto ao Estado, as instituições estão abaladas nas suas estruturas, viciadas no seu funcionamento e deficientes nos resultados. Este quadro tão complexo representa, no campo institucional, a meia verdade podre. Felizmente, há muitas pessoas dignas que não se deixaram contaminar pelo estado de podridão moral. Sofrem as influências do meio ambiente, mas não cederam às pressões de um “democratismo” fomentado por uma liberdade plena (libertinagem), desvinculada da responsabilidade. Foram salvos pelo amor às tradições e se posicionaram acima do estado de passividade que tomou conta da sociedade.
            Um povo rico e feliz produz um Estado suficientemente rico e forte.
             (...)
            Que a fantasia das histórias infantis, nestes dias de festas e de crises, nos ajude a restabelecer duas palavras que estão agonizando: esperança e dignidade.
            “Vivamos o presente voltados para o futuro, mas com os pés no passado.”
           
            Texto base: Artigo publicado no Jornal de Brasília, em 31/12/1993.

            Este artigo, apesar de tantos anos, com alguns comentários complementares, excetuando-se a oportunidade diluída no tempo, continua tão ou mais atual do que àquela época, bastando adaptar-se à realidade presente. Hoje, as reformas procedidas ou em andamento são vistas como formas de confronto: ou ganha ou perde o governo. Os interesses do País são desconsiderados. Ou tudo isso é mera invencionice?
   


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