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Um apelo à Concórdia


                                                                (vigésima terceira comunicação)      

O momento atual requer aprofundamento nas causas ocultas, que tantas distorções produziram. Só os antecedentes justificam o estado de conflito que presenciamos. O ontem sempre reflete os efeitos no amanhã. “Quem planta chuva colhe tempestade”, diz velho chavão popular. O hoje será o resultado das causas originárias do plantio. Vivemos um tempo indefinido, proveniente de efeitos acumulados em várias gerações. Assim como um erro de cálculo inicial se agrava à proporção que se afasta de seu centro, erros grosseiros inviabilizaram estruturalmente o estado de direito democrático. O tempo e a distância haveriam de comprovar uma realidade que ignorou reiteradas advertências de argutos observadores que, além de não serem ouvidos, tornaram-se meros bruxos a prognosticar catástrofes. Acontece que eles é que estavam certos. As causas, apesar de profundas, eram facilmente ocultadas pela inépcia de uma sociedade que nunca interessou questioná-las.
É num ambiente de crises e esperança que o Brasil acolhe representantes de 175 países. 
 Jornada Mundial da Juventude e a presença do Papa Francisco.
A semana que passou (21/28 de julho), além dos já comuns movimentos de contestações, cuja composição a cada dia acresce mais ingredientes inflamáveis, como o “vandalismo” e violência incontrolados, desafiando órgãos de segurança e autoridades constituídas, foi marcada pela realização, no Rio de Janeiro, da Jornada Mundial da Juventude, patrocinada pela Igreja Católica, com a presença do Papa Francisco. Sem diminuir a importância do encontro, melhor seria se fosse enriquecida pela presença de membros de outras religiões, num congraçamento universal da juventude comprometida com ideais sublimes de fidelidade a um Deus, comum a todos os credos religiosos. Ainda não nos habituamos a ver o congraçamento religioso, ecumenismo, como um objetivo a ser incrementado, vivenciado e prestigiado pelas lideranças religiosas. O radicalismo e o fanatismo exacerbados levam o ser humano à perda da noção de um Deus único e o incita a criação de seu próprio Deus, ou deuses, muito mais ídolos do que um ser infinitamente perfeito, em todos os sentidos em que a perfeição possa ser imaginada.
Qual o significado da presença do Papa Francisco neste apoteótico evento Cristão?
Neste mundo tão controvertido teria muitos comentários a fazer: Preferimos falar sobre a presença do carismático Papa Francisco, no que ficou transparente na sua visita ao nosso País. Quem é este Papa que causa tantos comentários, sobretudo quanto à humildade nas atitudes e o devotamento à concórdia? 
As suas primeiras iniciativas como Papa já demonstravam porque foi escolhido para um período tão perturbado: veio para pregar e dar o exemplo do amor ao próximo, principalmente ao próximo que mais necessita da prática do amor; veio para lembrar aos credos religiosos e aos membros de sua própria Igreja, da necessidade do respeito mútuo e de um diálogo aberto com outros credos religiosos, inclusive com aqueles que dizem não ter religião, como premissa para que se estabeleçam princípios que visem a convivência pacífica e harmoniosa, ambiente essencial para promover a dignidade humana. Veio como um segundo São Francisco de Assis para dar continuidade ao projeto de integração do ser humano com o ambiente que o acolhe, bem como o relacionamento do ser humano com o seu próximo; veio pregar o amor e desarmar o ódio aos que ainda se encontram distantes e mergulhados num indiferentismo aviltante; por fim, veio para lembrar de que somos uma centelha Divina, criados à imagem de um Deus que é único, portanto, somos todos irmãos. 
Está aí o que se pode deduzir de seus atos, gestos e homilias.
Em rápidas palavras vejamos a trajetória de sua meteórica passagem pelo nosso País e alguns aspectos interessantes de sua presença entre nós:
A sua chegada ao Rio de Janeiro foi um acontecimento apoteótico, nunca visto. Desfilou de “papamóvel” sem qualquer blindagem, acenou para uma multidão extasiada, abençoou e beijou crianças. Mas o que mais marcou a sua chegada foi uma trapalhada do dispositivo de segurança. Em carro comum, de vidro rebaixado, ao passar pela Av. Presidente Vargas foi surpreendido por uma interrupção da comitiva, devido ao congestionamento do trânsito, como qualquer um de nós. Cercado por uma multidão de fiéis, ao invés de fechar o vidro acenou para a multidão, chegando a pegar e abraçar crianças que lhe foram repassadas, como se tudo aquilo fosse normal.    
            Ali estava não apenas o chefe supremo da Igreja Católica, mas o mesmo cardeal Jorge Mário Bergóglio da nossa vizinha Argentina, na simplicidade de um cidadão do mundo, elevado pelo destino ao mais alto e venerado posto da hierarquia Católica. Ali estava, na simplicidade de um gesto espontâneo, dando uma aula de humildade e confiança àquela multidão que apenas desejava prestar-lhe uma prova de carinho.
            Igualmente apoteóticas foram as celebrações das missas na Basílica de Nossa Senhora Aparecida e a Missa de encerramento das solenidades programadas, ou Missa de Envio, com a participação de mais de três milhões de participantes. Outro evento de destaque foi a representação da “Via Crucis”, em Copacabana. É de se ressaltar que após as solenidades desfilava de “papamóvel” aberto, tendo o mesmo procedimento quanto à aproximação com a multidão, que o aplaudia delirantemente.
Outro acontecimento digno de admiração foi a noite de vigília. Some-se a tudo isso os longos percursos em caminhadas probatórias dos penitentes, jovens e adultos, sob chuva; a obediência a horários rígidos, cumprimento de atividades programadas; o desconforto das pousadas; os improvisos nas locomoções, como provas que se submeteram jovens de 175 países. Seria isso possível de se imaginar que acontecesse a uma juventude que vive num mundo impregnado de violência, guerras, drogas, descrédito nos princípios morais e religiosos? Num mundo destituído do amor ao próximo? Ninguém pode dar o que não tem. Esta juventude deu ao mundo uma grande lição, que assim podemos sintetizá-la: Respeito aos valores morais que sustentam as sociedades, grandes ou pequenas, para que haja paz e união entre os povos: ordem, disciplina e moral. A liberdade, assim como os direitos individuais, está também sujeita aos limites impostos pela ética e pelos bons costumes.
A visita do Papa Francisco será lembrada como um acontecimento providencial para que se encontre uma saída honrosa para o momento histórico que presenciamos. A hora é de buscarmos a paz e a união.

Obs.: Aproveito desta comunicação para anunciar o lançamento, para breve, do segundo volume do livro “O Real e o Místico no Cadinho da Vida”, que trata justamente de assuntos atinentes ao congraçamento das religiões, abrangendo um estudo independente e irenista sobre temas polêmicos. 

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