(Vigésima nona comunicação)
Quem se atreveria
a enfrentar sem as devidas cautelas a trajetória de um tornado, ou se arriscaria
a apreciar as delícias de uma praia quando os avisos e alarmes insistentes anunciassem
a iminência de um tsunami que estivesse próximo a acontecer? Não estaria
cometendo um suicídio? Ainda não chegamos a tanto, mas os sinais de alarme já
foram acionados através dos movimentos contestatórios e reivindicatórios, além
da insatisfação popular, estampada nos vários órgãos que compõem a mídia.
A presente comunicação
conclui a anterior no que se refere ao julgamento da possibilidade de se
interpor os tão propalados “embargos infringentes.” O que ficou em suspenso,
como nos referimos na comunicação anterior, foi a fragilidade e descrédito das
instituições. Voltamos a um pequeno trecho ali posto:
“Sem entrarmos no mérito do desfecho do que venha acontecer, quando os
ânimos dos contendores ultrapassaram aos interesses pessoais e deixaram claros
interesses ideológicos de grande calibre, aproveitando-se das impropriedades de
denominações irreais, como a independência dos poderes da República, que nada
têm de independentes. O Executivo é investido do direito de nomear ministros do
poder Judiciário. Não seria isso uma incongruência? Sem comentário!”
Portanto, o que preocupa mesmo é a
possibilidade do que ficou evidente, de que o mais elevado tribunal de justiça
do País, o Supremo Tribunal Federal, pudesse estar na dependência dos votos de
cartas marcadas, e não apenas do voto final de um Ministro. Num colegiado de onze
ministros, isto ficou claro. O empate de 5x5 não correspondia a um julgamento
que dizia respeito à moralidade pública e ao futuro do País, numa época de
descrédito das instituições e das autoridades, mas, sobretudo da esperança de
que haveria uma demonstração de se restabelecer valores morais, éticos e
cívicos, desgastados com práticas desestruturadoras da nacionalidade, com
tantos males à mostra. Não é mais possível viver num ambiente de insegurança,
de críticas exacerbadas, de ameaças à liberdade. Sociedade desestruturada põe
em risco a governabilidade. A união é a força que só será valorizada quando dermos
conta de nossa fragilidade. Infelizmente!
Vivemos um tempo difícil,
mergulhados num atoleiro provocado por dejetos que vieram e continuam a vir à
tona, abastecendo o noticiário da mídia, hoje, acrescida pela expansão das
redes sociais, proporcionadas pela internet.
Deixemos de lado as tormentas que nos afligem e aproveitemos para
tentar descobrir as razões que justificam ou levam a humanidade ao cometimento
de tantos absurdos, como o número exagerado de suicídios, homicídios
inqualificáveis, o uso de drogas, além de uma violência incontrolada e tantos desatinos
inqualificáveis.
A pressão a que somos submetidos vindos de nós mesmos, sem darmos conta
de como isso se dá, uma espécie de sentimento que grita e se agita em forma de
pensamento contínuo, faz com que, atendendo ao apelo do dever a cumprir, ou de
uma obrigação imposta, nos entreguemos por completo à consecução de projetos de
vida que vão além do que seria racional, ou daquilo que a razão não nos
aconselharia. Somos levados pela correnteza das águas do destino, que de nós
mesmos só a presença física e psíquica de nossa vida a dar cumprimento a um objetivo
pouco delineado, que vai lentamente se robustecendo e tomando forma. E onde
estariam a vontade, a liberdade, a consciência ou a razão de nossos atos? Nem
mesmo o livre-arbítrio estaria isento de tamanha pressão, por ser simplesmente
o resultado das forças propulsoras de nossos atos: a vontade e a liberdade.
O tempo e as circunstâncias tomam a rédea dos
acontecimentos, guiando os passos rumo a um objetivo que vai aos poucos tomando
forma, até tornar-se fator preponderante de nossas ocupações. Aí, a essa
altura, é tarde demais tentar impedir tarefa pronta a realizar-se. É o fim da
picada: “consummatum est.”
E como isso se deu? Por que não
aconteceu daquele e não deste modo? Pior ainda: como viemos suportar tamanha
pressão, frustrações, julgamentos e comparações humilhantes, como se tivéssemos
perdido a noção das coisas do mundo e acreditado em fantasmas? Poucas pessoas
serão capazes de analisar o ocorrido com a isenção de sentimentos comprometidos
com a formação cultural a que foram educadas, nos mais variados modos de pensar
e segundo as tradições e costumes de seu ambiente social. A teimosia, a
agressividade, o orgulho, o egoísmo, a vaidade e o preconceito, se sobressaem e
distorcem os ensinamentos adquiridos, tanto os religiosos como a prática dos
bons costumes e da moral, sobretudo da honestidade.
Qual o motivo desta divagação? É uma
tentativa de compreendermos o momento que vivemos. E, se possível, suportar o
peso de tantos absurdos.
Uma coisa é certa: depois de tanta
celeuma quanto a um julgamento sofrido e demorado — mais de um ano — a nação se
pôs em guarda ao histórico desfecho que deveria ter um fim. Não se tratava apenas de julgar pessoas
importantes, revestidas de autoridade, mas de crimes lesa-pátria. A frustração
está justamente aí: esperava-se que a justiça estivesse disposta a dar cobro há
uma situação que já era vista como uma doença gravíssima que corroia as
instituições, a corrupção escandalosa, que desmoralizava os representantes dos
poderes da República e criava constrangimentos internacionais, com a pecha de
país nada sério. Mas, no entanto, ao fritar dos ovos, para os doutos julgadores
não passava de fatos comuns de pouca importância, sem nenhum comprometimento
com o destino de uma juventude que teve a ousadia de alertar a nação em
movimentos contestatórios, uma realidade que havia sido absorvida pela incúria
daqueles que teriam o dever de combatê-la. Triste realidade! Por isso o título desta comunicação: “Que
rumo tomar?”
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