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O Pré-Sal e a Realidade


(Trigésima quarta comunicação)

No último comunicado falamos de paz e união. Qual seria a receita para apagar o fogo da discórdia? Diante desta pergunta é que vamos discorrer sobre o atual momento histórico, conduzindo o pensamento para uma realidade desprovida de bom-senso. É inegável que nos encontramos numa encruzilhada dos tempos. É preciso dar rumo ao País. O momento que vivenciamos exige transformações radicais quanto à representatividade política. Este é o ponto de partida. As instituições necessitam ser repensadas. Política, politicagem e ideologia só agravaram os eternos entraves impeditivos a um desenvolvimento mais condizente com as reais necessidades do País. Um desses entraves está enraizado na prática deturpada da representatividade política, principalmente dos Estados membros. Mas outro, igualmente grave, refere-se à qualidade dos representantes. Os políticos não se entendem ou fazem por onde não se entenderem. Não se sabe mais em quem acreditar. Ao mesmo tempo em que se noticiam horrores sobre determinado político, em curto espaço de tempo a própria fonte denunciadora o apresenta como pessoa proba, digna e competente. As canalhices apontadas e não comprovadas são tidas como se nada tivesse acontecido. Por isso já nos acostumamos à versão do fato, uma espécie de brincadeira de mau gosto. A honra é coisa do passado. Em quem acreditar? Vivenciamos uma crise de credibilidade nas instituições, na classe política e no serviço público. As minirreformas eleitorais acobertam conchavos que invalidam tudo que diz respeito à moralidade pública. Não é sem razão que os movimentos contestatórios e reivindicatórios não dão tréguas. O ambiente pré-eleitoral promete o agravamento das tensões, uma vez que os candidatos a cargos eletivos têm necessidade de aparecer perante o eleitor com a roupagem da decência, ocultando a sua verdadeira intenção. Queiramos ou não, tudo isso deixou de ser novidade. Faz parte de nossa tradição, uma péssima herança incorporada na nossa viciada política. Simplesmente tornou-se rotina. Isso preocupa.     
Deixemos de lado este estado por demais conhecido e vamos tratar de outro assunto, menos agressivo e mais consistente.

No dia 21 de outubro de 2013, precedido de muita expectativa e sob pressão de movimentos de protestos — Petroleiros, MST e outras organizações sindicais —, finalmente, foi realizado o primeiro leilão do Pré-Sal: um consórcio, formado à última hora, composto pela Petrobras (10%), a anglo holandesa Shell (20%), a francesa Total (20%) e as chinesas CNPC (10%) e CNOOC (10%), foi o vencedor para explorar a reserva cobiçada entre as áreas demarcadas, o Campo de Libra, situado na Bacia de Campos. O lance foi o mínimo exigido para concorrer. A fabulosa riqueza no fundo do mar, e ponha fundo nisso, a partir de agora deixa de ser apenas uma quimera que alimentava sonhos e brigas de como repartir os royalties. Daqui para frente a história é outra. A empreitada exige união de forças para que possa sair do papel e enfrentar uma realidade de riscos, com objetivos diferenciados do grupo societário, em que os meios necessários, técnicos e aplicação de projetos altamente onerosos são incalculáveis. Os números para realizar o que se espera, envolvendo gestão altamente competente, com prazos longos e custos elevados, são condições que não podem sofrer influências políticas e de políticos que, num ambiente de euforia pelos lucros bilionários previstos para o Pré-Sal, não levam em conta os gastos, mas somente o lucro, que só deve aparecer daqui há uns dez anos.  O resultado desta fabulosa soma de dinheiro, já foi calculado e decidido: tanto para a educação, tanto para a saúde e tanto para tanto... . Contendas ferrenhas entre governadores e prefeitos para estipular as vantagens sonhadas, referentes aos fabulosos royalties, já se tornaram comuns.
No entanto, muito mais sério é o cumprimento do cronograma, com gastos de bilhões de dólares. A Petrobras, por mais sólida que pareça, pode ter dificuldades para honrar planos de investimento. Além dos gastos com o pré-sal, tem compromissos internos, altamente onerosos. Lembremos da política do etanol, que não pode ficar de lado. Salientemos, também, que a frota nacional de veículos movida a gasolina e óleo diesel vão além de qualquer prognóstico. E as frotas, marítima e aérea? Uma coisa é certa. O pré-sal, um mar de petróleo num mar de sal, uma vez descoberto, não podia dormitar eternamente. Havia de ter uma solução. E esta foi encontrada, pouco importando que o ambiente seja de um período pré-eleitoral. Coincidência! Difícil vai ser conciliar estes dois “prés”.
As decisões tomadas para exploração do pré-sal são definitivas e irrecorríveis. O cumprimento das cláusulas contratuais é de responsabilidade da União, e não da Petrobras, embora seja ela a responsável direta para desempenhar todos os encargos inerentes à exploração da área: financeiros, técnicos e decisões próprias de sua atividade, uma vez que o consórcio refere-se a obrigações quanto à produção do produto, em regime partilhado.        
Como vimos no início desta comunicação, nos referimos à necessidade de repensar as instituições. Por reiteradas vezes tenho referido aos Mosaicos da Sociedade Brasileira, uma coletânea de três livros provenientes de precognições, escritos na distante década de 1980 para um futuro incerto quanto a datas, mas explícitos quanto aos acontecimentos. Não se trata de nenhuma obra literária mas, por coincidência, o que ali é tratado encaixa perfeitamente ao que presenciamos nos dias de hoje, acrescidos de alguns senões nada desejados. São coincidências demais. O País não pode permanecer infestado de situações degradantes, como as que são comuns nas apreciações de eminentes analistas políticos e divulgadas pela mídia. Brasil acima de tudo!  

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