Quadragésima
quarta Comunicação
Retorno após um recesso com duplo sentido: um descanso
para quem escreve e para quem lê e, mais importante do que isso, uma pausa para
assuntar sobre o que o ano de 2014 poderia trazer de novo. No entanto, paira no
ar a mesma rotina e as mesmas ameaças, acrescidas do clima de incerteza que já
era evidente ao apagar das luzes do ano velho. Apesar do disfarçado otimismo
quanto aos dois eventos que mexem com as emoções, copa do mundo e as eleições
gerais, há certo sinal de que as crises não darão tréguas. As causas que as
motivaram continuarão expostas a efeitos desastrosos. Ainda não acordamos de um
pesadelo que está consumindo vidas.
Estamos entrando num ano eleitoral. Num tempo em que a
transparência passa a fazer parte da convivência social, os absurdos tornam-se
armas de ataque e de defesa. Ninguém se entende. A propaganda política e a prática de troca de
favores comprometida com a manutenção de privilégios abomináveis, sempre
impediram questionamentos sérios. Assim, a balança de pagamentos desequilibrada
oscila ao sabor das necessidades contemporâneas e das maquiagens possíveis. Mas
quando praticada segundo concepções ideológicas (esquerda ou direita), aí sim, torna-se
um desastre. Mas nada disso é levado a sério. Vivemos sob o signo da
insegurança e do medo. Por isso vamos pinçar um dos sempre citados serviços
essenciais, aquele que tem por objetivo manter a ordem e garantir os direitos
de cidadania: a segurança pública, já
que há algum tempo é a que mais sustenta os noticiários da mídia.
A população está amedrontada e não mais confia nos
órgãos responsáveis pela segurança pública. Será que os agentes de segurança
são os únicos responsáveis pela intensidade da crise há muito instalada? Ou eles
também são vítimas, pois vivem sob os efeitos dos assassinatos programados? Não
se trata de encontrar culpados, mas de ir ao encontro de soluções. Este estado
psicológico social espalhou-se por todo o País. Ninguém pode considerar-se
seguro. Nem mesmo as autoridades.
As penitenciárias das metrópoles são casos à parte,
pois constituem a fonte inesgotável dos noticiários. Acontece que não se trata
apenas das penitenciárias de São Paulo e Rio de Janeiro que estão sempre
apresentando novidades quanto ao cometimento de fatos que vão além da
imaginação, compondo um complexo de absurdos que compreende assassinatos com decapitação
e exposição de cadáveres, estupros e toda ordem de barbaridades.
A menos de um
mês esteve na crista dos acontecimentos a Penitenciária de Pedrinhas, no
Maranhão. A estatística é assustadora naquele presídio: 60 assassinatos no ano
de 2013. Ali a barbárie chegou ao limite máximo: cabeças decapitadas são
expostas como troféus. Isso impõe respeito entre os presidiários. Mas também
desafia o Estado. Já nos primeiros dias de 2014 (3 de janeiro) mais dois assassinatos
eram tornados públicos; no dia 20 de janeiro, mais um assassinato. Apesar do aparato
policial, continuaram os motins. Com isso escancararam-se as precariedades de
outras tantas penitenciárias por este Brasil afora, que apresentam condições
subumanas de sobrevivência, sendo a superpopulação carcerária um dos motivos do
caos que se instalou no sistema presidiário. Pedrinhas é apenas mais um caso
entre tantos outros que se revezam em todo o País. A barbárie continua se
alastrando como fogo numa floresta, deixando um rastro de destruição, espanto e
terror. Na madrugada do dia 13 de janeiro de 2014 foram cometidos 12
assassinatos em Campinas-SP, seguidos da rotina de vandalismo, com três ônibus
queimados e sete veículos depredados. Em Rondônia, num combate entre
assaltantes e a polícia, mais oito mortes. O mês de janeiro, pelo visto,
confirma um estado de anomia poucas vezes presenciado. Só em São Paulo 33 ônibus foram queimados no
mês de janeiro. Isso dá o que pensar! Os protestos menores, comparando-se às
manifestações de junho, ainda não repercutem na mesma intensidade daqueles, mas
isso não significa que tudo corre às mil maravilhas. Estão se acumulando nuvens
ameaçadoras. Os fatos presenciados são tão graves que merecem alguns
comentários sob o estado crítico a que chegamos:
As facções criminosas, de um modo geral, de dentro das
penitenciárias comandam, com autoridade ditatorial, as ações a serem
executadas, dentro e fora dos presídios. A superlotação e a falta de critérios
disciplinares preventivos, responsabilidade direta do estado, impedem ou inibem
a efetiva gestão administrativa, disciplinar e de relações humanas, com fins
não apenas punitivos mas, sobretudo, de recuperação do condenado. Os métodos
tão apregoados pela teoria, como a educação, o trabalho e o lazer nunca são
postos em prática como deveriam. Os motivos são óbvios. Sob este ponto de vista
nenhum governo quer se envolver diretamente em questões que chegaram ao estado
de caos, causando um mal estar de desconfiança generalizada. Enquanto isso se
vive a síndrome do pânico. O comum, nestes casos, são atritos de competência
entre governos estaduais e a União, envolvendo falta de recursos, financeiros e
de pessoal, sempre agravados pelas deficiências institucionais eivadas de
vícios seculares, como a corrupção, os privilégios políticos e a tendência
natural de maquiar responsabilidades.
Para termos uma idéia da incúria com que é tratado o
assunto, transcrevo a chamada para matéria vista na página seis, publicada no
Correio Braziliense de 12 de janeiro de 2014: “Há quatro anos a CPI do sistema
carcerário visitou 56 penitenciárias. Doze projetos de lei foram apresentados,
até a barbárie no Maranhão, resultado da negligência dos políticos.”
Nada a comentar, mas a acrescentar: este Blog foi
criado para chamar a atenção da existência de uma coletânea de três livros que
se destinariam a dar rumo ao País. Pois bem, no primeiro volume da coletânea,
ao tratar de Segurança Pública, o tema sobre o sistema penitenciário é visto com
detalhes, pouco lembrados. São sugestões práticas e simples.
Chegamos a um ponto de descalabro em que os fatos
envolvendo a “in” segurança pública já são vistos com preocupação pelos órgãos
internacionais. Inclusive pela ONU. Talvez porque a Copa do Mundo seja um
evento internacional.
Como disse no início, o recesso em que optei
interromper temporariamente a série de comunicações, teria como objetivo dar “uma
pausa para assuntar sobre o que o ano de 2014 poderia trazer de novo. Pelo que
tudo indica será o mesmo do mesmo, com os ingredientes extras das comemorações
previstas, acrescidas das experiências e outras táticas, teóricas e práticas, resultantes
de falhas observadas nos movimentos sociais. Está aí mais uma novidade: o “Rolezinho”.
Na próxima comunicação trataremos deste enigmático movimento.
(Ver comunicações 4 e 5 – mês de março de 2013).
Bom-retorno às postagens, amigo Oto. A meu ver, o melhor veículo de comunicação que temos atualmente, sem ônus. Estou pensando em pegar um gancho em seu tema para abordagem de minha próxima crônica, dando um tempo à biografia machadiana que comecei a postar ali. Abraço.
ResponderExcluirPrezado amigo Jorge Leite,
ExcluirQue bom que você tenha gostado do artigo. E melhor ainda, em querer "pegar um gancho", que, para mim, tem um significado especial. Obrigado.
Abç Oto