56ª
Comunicação
De tempos em tempos somos surpreendidos por
acontecimentos que abalam profundamente os alicerces das nações. São
simplesmente efeitos de causas adredemente elaboradas e sustentadas por
delirantes elites que imaginam poder modificar costumes e tradições, tendo em
vista criar algo de novo, dando asas a uma fantasiosa liberdade. Assim nascem e
se agigantam as ideologias, as deformações na criação e aplicação das leis, o
direito mutilado, o excesso de casuísmo, a rivalidade entre classes sociais
instigadas por ideologia que prega a luta de classes — uma tentativa frustrada
em época recente, mas que serve como carro chefe de regimes políticos
autoritários, embora dissimulados — e outros tantos disparates. Os efeitos são
apenas conseqüências da má condução das causas, muitas vezes, bem intencionadas
e até mesmo necessárias, mas eivadas de interesses escusos. Com o passar do
tempo estas deformações incrustam de tal modo nos pilares que compõem os
fundamentos da estrutura social, que não há recursos humanos capazes de
proceder aos reparos necessários para recuperá-los. Civilizações já se
extinguiram ao atingirem o limite máximo da depravação social.
Assim é que a instituição família foi deformada e
caminha celeremente para tornar-se coisa do passado; a droga e os vícios dela
provenientes vão aos poucos sendo aceitas naturalmente, como fazendo parte da
conduta humana, assim como a liberdade e vontade própria, amparados pelos
“direitos humanos”, tão decantados nos nossos dias Até mesmo a corrupção, crime
hediondo quanto aos efeitos perversos, acena para um fim honroso, que contempla
a opulência e a distinção.
Tudo isso tem um custo elevado para as próximas
gerações. Enquanto a nossa já falida e desesperada geração vive sob os grilhões
da violência, da desconfiança uns para com os outros, do medo, da incerteza do
amanhã, do repúdio ao comportamento da classe política, sempre criticada pelo
excesso de mordomias, vantagens indevidas e tantos outros desatinos
inconcebíveis, continuamos a espera que algo venha acontecer de extraordinário.
A nova geração, atônita e sem ponto de apoio que lhe sirva de exemplo, está aí
sob os efeitos deletérios da nossa incompetência de administrar o caos que,
voluntária e irresponsavelmente criamos, ou contribuímos para que isso
ocorresse. Citemos alguns sinais provenientes dos tempos modernos que tendem a
agravar-se: crianças revoltadas sem motivos aparentes, propensas ao cometimento
de pequenos e grandes delitos, facilmente adotadas pelo crime organizado;
adolescentes, de ambos os sexos, entregues às mais variadas atitudes
deprimentes; os assassinatos de crianças pelos próprios familiares; suicídios,
em todos os estágios de vida; crianças e adolescentes que abandonam o lar,
justamente por não encontrarem a afeição de que tanto necessitam; o desrespeito
aos mais velhos, sobretudo professores e pessoas mais próximas de seu convívio.
Acrescente, como tempero, a miséria e seus derivados.
A mídia, principalmente a televisão, tem servido de
veículo propagador de abomináveis práticas detonadoras dos princípios morais. O
que dizer do uso indiscriminado das redes sociais, que incentiva cada vez mais
as práticas anti-humanas? Leio no Correio Braziliense do dia 20 de abril,
notícia sobre uma prática vinda de “países civilizados“, o cutting, que já
atinge uma entre cinco crianças dos Estados Unidos, Europa e Japão. Trata da
automutilação do corpo, conforme descrição contida no caderno ‘Cidades’:
“Cicatrizes sobrepostas. Feridas totalmente fechadas e outras em carne viva.
Abertas dia após dia, com qualquer objeto capaz de rasgar a pele.” Vários casos
já foram notados no Distrito Federal e preocupa profissionais da educação e
pais. O Correio Braziliense do dia 21 de abril dá continuidade ao assunto. Não seria este distúrbio uma conseqüência do
que se passa na sociedade?
Quem não se previne corre o risco de engrossar o
número daqueles que já se encontram mergulhados num mar de podridão, cujo
objetivo é desestruturar e erigir uma nova sociedade com base em princípios
socialistas, ou comunistas, de trágica memória. Todo radicalismo, de direita ou
esquerda, por mais bem intencionado que seja, tem objetivos ocultos que visam
suprimir a liberdade, automatizar o ser humano, criar privilégios e
perpetuar-se no poder. Assim, ao invés de igualdade, um sonho utópico,
instala-se a tirania de uma classe que utiliza do arbítrio e do poder absoluto,
concentrado num núcleo decisório, o partido único — nazismo, comunismo,
representação religiosa, tribal e outras denominações excludentes.
O que assistimos no momento, com tantos eventos
programados e em plena efervescência, compreendendo Copa do Mundo e ano
eleitoral, imersos num clima de expectativas quanto ao que pode acontecer, com
atos perturbadores promovidos por aqueles que não concordam e pretendem
demonstrar as suas discordâncias, com atos difíceis de serem previstos e
motivos nem sempre aparentes, não deixa de ser um grande problema a ser
enfrentado. As soluções aconselháveis nem sempre poderão ser executadas, por
contrariarem interesses políticos, econômicos e ideológicos, os mais diversos.
Fala-se muito em democracia e liberdade, arbítrio e condescendência de
atitudes. Mas a realidade, muitas vezes, é uma bruxa, e não uma fada.
Alguns distúrbios já antecipam o que pode ocorrer.
Numa visão da realidade vivenciada e não de suposições, estão aí demonstrando
um estado crítico quanto ao exercício dos direitos e deveres, do cidadão sem
cidadania, numa sociedade insegura. Citemos alguns casos: em Osasco, na Grande
São Paulo, foram queimados de uma só vez, 34 ônibus da empresa Auto Viação
Urubupongá; a onda de sequestros e assaltos a mão armada executados em casas
comerciais, shoppings, farmácias, padarias e até em escolas; as queimas de viaturas,
sobretudo ônibus, como meio de instalar o pânico; a insuficiência de
atendimentos em assuntos essenciais, como transporte, saúde, educação e
segurança. Ultimamente estão se tornando comuns os crimes contra alunos e
professores. Os trotes animalizados, ainda presentes em algumas faculdades,
repercutindo na mídia; a corrupção, sempre presente nos noticiários; as
interrupções de vias públicas, com queima de pneus e barricadas, são cada vez
mais utilizadas nos protestos, com ou sem motivos, atenazando a vida da
população. Isto sem se referir aos atritos que envolvem interesse políticos,
com troca de acusações graves, mas que acabam diluindo pela reciprocidade das
práticas, igualmente indecorosas. A corrupção anda solta, aguardando por
medidas que a detenha. A cada dia temos novidades. Assim, numa sociedade que se
preocupa mais com a igualdade entre mulher e homem quanto à representatividade
política, e não no mérito pessoal, não tenhamos dúvida: o que se procura mesmo
é promover a “guerra dos sexos”, como prolongamento da luta de classes. E
tantos assuntos sérios, hoje relegados a discussões estéreis no Congresso
Nacional. O imbróglio Petrobras / Pasadena, alvo de uma CPI exclusiva, por
exemplo, será um bom motivo para elevar ainda mais o tom das disputas
eleitorais. O setor de eletricidade é outra ferida aberta.
Tudo indica que não fomos capazes de distinguir o
certo do errado, o bem do mal, o conveniente do inconveniente. Agora, sob o
espetáculo da delirante fantasia, estamos aguardando por um futuro que pede por
socorro.
Estamos diante de um caos anunciado. Ou não?
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