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Cegueira Social


                                          (54ª Comunicação)
            
              Para quem nasceu desprovido de visão, não faz diferença alguma entre a claridade e a escuridão. As pessoas aprendem a conviver com as deficiências, num eterno aprendizado. A vida é uma escola que nos ensina a enfrentar a rudeza do mundo e a conviver com o próximo em sociedade. Daí dizer-se que o “homem é um animal social”, provido de inteligência e raciocínio.
            Não é nenhum exagero dizer que vivemos, na atualidade, mergulhados num mundo de trevas. O raciocínio lógico está perdendo a força de interpretação. O ser humano necessita de regras de como viver em sociedade. Estas regras comportamentais são tidas como valores morais, religiosos e cívicos. Como estamos perdendo a noção do que sejam estes valores, deixamos nos envolver pela teia da desconfiança, da frustração, do medo e do pessimismo. A solidariedade vai aos poucos perdendo a sua força motriz, que é o amor ao próximo. Estamos enveredando para um ambiente raivoso das conquistas enganosas. Assim, mergulhados num ambiente de trevas, apenas percebemos o que se passa ao nosso derredor, tateando ou sentindo emocionalmente o que nos circunda. Daí a necessidade de reencontrar uma maneira de contornarmos, prudentemente, uma situação de perigo iminente.          
            Já estamos nos acostumando a não dar a devida atenção aos noticiários do dia-a-dia, uma realidade temerosa que está nos conduzindo a um caminho infestado de ameaças à vida e à segurança coletiva. Não mais se leva em consideração as virtudes, como a honra, o pudor, a palavra empenhada, a sinceridade, a confiança, a honestidade, a conciliação, a verdade e o patriotismo. Estas palavras perderam o sentido das coisas sérias. Somos portadores da cegueira social. 
            Neste ambiente de trevas — uma metáfora, talvez exagerada — vivenciamos o acomodamento, por medo ou covardia de um ridículo inominável: o desterro da moral, dos bons costumes e da ética, com vista a uma degradação da cidadania, palavra que perdeu a vitalidade que sustentava o arcabouço do Estado de Direito. Somos o inverso do que deveríamos ser. Portanto, vivemos uma época perigosa, quando é visível o aniquilamento dos valores morais e éticos. É triste constatar que este fato não é levado em consideração na escolha dos representantes do povo, uma prática que deixou de ser confiável dada a superioridade dos motivos contrários aos interesses da nação. Vamos a um exemplo:
            Hoje se fala até mesmo em revisar a Lei de Anistia. (Lei 6.683 de 28/08/1979). Inocentemente perguntamos: Os crimes praticados pelos então guerrilheiros também estariam incluídos no rol do que seria revisado? E os exilados que retornaram à Pátria com todos os direitos resguardados, não teriam motivos suficientes para reprovar tamanha insensatez? Lembremos que a anistia é uma forma de perdão. E o perdão é um dos componentes das virtudes cristãs: “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos aos nossos ofensores.” O comunismo tem como base o materialismo. Mas não acredito que seja contra os princípios humanitários.
Muito se fala em tortura e pouco em terrorismo. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que a tortura é, foi e sempre será um dos métodos utilizados em guerras e lutas armadas para obter delações, confissões e planos estratégicos do inimigo. Entre nós, por exemplo, bombas de grande poder destrutivo, que causariam centenas de mortes, foram desativadas. Teriam sido por vontade própria as informações obtidas de fanáticos guerrilheiros? O método empregado para localizá-las foi a tortura. Disso ninguém tem dúvida. A tortura, apesar de ser uma prática subumana, em certos casos, não deixa de ser uma necessidade, quando evidências apontam para perigos que contrariam objetivos estratégicos e a segurança em geral, da população e dos combatentes. As guerrilhas também empregaram torturas horríveis. E disso ninguém fala. Guerra é o embate entre facções que se opõem depois de esgotados os recursos diplomáticos. Guerra é guerra em qualquer circunstância. E a guerrilha a que estamos nos referindo, além de guerra era suja e covarde. O inimigo agia ocultamente em nome de uma ideologia que visava exterminar com o patriotismo, submisso a ordens emanadas de centros de inteligência internacional. Era apátrida e praticava o crime de lesa-pátria. Infelizmente, por deformação ou espírito de aventura, muitas pessoas bem intencionadas foram atraídas pelo canto da sereia do mal. E deu no que deu. Remoer o passado com o espírito de vindita e arrogância pode levar ao revide. É próprio do ser humano agir até o limite da tolerância. O excesso das medidas postas em prática é próprio da fraqueza humana, que compreende o sadismo, o espírito de vingança, autoritarismo e outros desvios da personalidade, e não da corporação a que pertence. O momento é que dita como proceder. Pensemos nisso.
Somos um navio à deriva. Até pouco tempo este navio navegava em mar calmo.  Acontece que nem tudo era assim tão seguro. Entramos num espaço de constantes distúrbios. Vejamos alguns sinais de turbulências: A repercussão positiva do julgamento do famigerado “mensalão” em 2012 e, a seguir, a repercussão negativa do recurso dos Embargos Infringentes, em 2013, que lançou por terra todo trabalho primoroso do Superior Tribunal Federal, com notória influência do Poder Executivo no Judiciário (STF), a partir da indicação de Ministros, uma prática leonina que merece ser revista. Mas disso ninguém se lembra. Vejamos outros distúrbios: a inflação influindo na taxa de juros (selic), dando sinais de que a economia não está assim tão segura; o imbróglio criado em torno de aquisições danosas ao patrimônio da Petrobras, com instalação de CPI, que vem criando um ambiente de animosidade entre partidos políticos e parlamentares, governo e oposição; o atraso nas obras de infraestruturas para realização da Copa do Mundo; a corrupção sempre em evidência, servindo de arma para acusações recíprocas, situação e oposição, como maneira de se evitar apurações de crimes lesa-pátria; a violência sem sinais de declínio, sempre crescente e incontrolada, uma ameaça antecipada à segurança dos eventos programados; as constantes barricadas em rodovias e logradouros estratégicos, sem motivos ou por motivos insignificantes, com vistas a perturbar a ordem pública, uma maneira de desacreditar nas autoridades e promover o caos; a insegurança do cidadão devido aos diversos tipos de ameaças, física e patrimonial.
Neste mar revolto há de se destacar a comemoração dos 50 anos da contra-revolução de 1964: A mídia, durante todo mês de março e adentrando-se ao mês de abril, principalmente as televisões abertas ao público, em horários nobres, vêm apresentando documentários com o nítido propósito de desmoralizar os governos militares. Pelo que tudo indica matéria encomendada, uma vez que não é comum a mídia ser tão boazinha assim. Quem estaria pagando? Tudo isso e muitos outros fatos degradantes atestam que estamos diante de um quadro perturbador. Ou não?  
            Quero lembrar que os livros “Mosaicos da Sociedade Brasileira”, escritos na década de 1980 para um tempo futuro e incerto quanto a data, mas com acontecimentos explícitos quanto aos acontecimentos, já tantas vezes referidas neste Blog, por incrível que pareça, têm tudo a ver com o momento atual.  
 “O pior cego é aquele que não quer ver.”

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