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Ideologia


                                                                  (Sétima Comunicação)
        
Fonte: Livro A Globalização Face ao Nacionalismo – EGGCF, Gráfica do Exército – 2002.

Este livro trata de temas importantes, vistos segundo o que se passava numa época de transformações globais profundas, quando ainda tudo era confuso. Citemos alguns artigos: Globalização, com os seguintes títulos: Econômica, Política, Cultural, Social e Globalização da Solidariedade; Democracia e Liberalismo, Civilização, Moral e Ética, Nacionalismo, ideologia, entre tantos outros temas sumamente importantes.


Introdução à data  

            Hoje é 31 de março de 2013, Domingo de Páscoa, data magna da Cristandade. Neste dia comemoramos a ressurreição de Jesus Cristo, após abominável condenação e uma morte humilhante, morte de cruz. Deste fato inominável e execrável, surgiria o cristianismo, movimento que iria marcar a história do mundo, antes e depois de Cristo (a.C e d.C).
            Este dia lembra também um acontecimento cívico-militar, que é um marco de luz na história do Brasil: O quadragésimo nono aniversário do contragolpe que pôs fim a um período de crises profundas, um autêntico caos, sob a tutela do comunismo internacional, uma espécie de manto avermelhado de sangue, que viria sofrer um golpe letal em 1991, com a dissolução da União Soviética. A nossa memória é fraca, por isso seria oportuno rever os fatos que antecederam aquele épico episódio, no período compreendido entre o ano de 1935 (Intentona comunista) e os dias que antecederam a data que hoje deveria ser comemorada, mas que, por razões ideológicas, nos dias de hoje, teimam levar ao esquecimento. Não é justo e nem patriótico tentar apagar com borracha não apropriada, os feitos que engrandeceriam qualquer país do mundo, que preza a sua história.
             Que esta data seja também um marco de reconciliação, assim como foi, à época, a Lei da Anistia, que buscava a união de todos os brasileiros, indistintamente. Se houve excessos e atos injustificáveis de terrorismo e de tortura, com assassinatos e toda espécie de barbaridade, não tenhamos dúvida, os houve dos dois lados. Quem participa de guerras ou movimentos afins, se vê impregnado pelo ambiente revanchista e radical. Isso é próprio da imperfeição humana. A data, portanto, convida a todos contendores a um recíproco ato de perdão.

            A Sociocracia, regime político que será motivo de abordagem no terceiro volume dos livros Mosaicos da Sociedade Brasileira, tem por objetivo apresentar um meio termo conciliatório. Não fosse assim, eu não teria levado a sério um roteiro de vida traçado por precognições.     
            Uma das palavras mais mencionadas nas contendas que incitam a luta política e servem como veículo desagregador das sociedades é a ideologia. Mas nem todos têm dela uma idéia exata. Esta pequena introdução é um aperitivo para que comentemos sobre ela.   

Ideologia
            (O ser humano é um vulcão em atividade, concebendo e liberando ideias.)

A ideia é a representação mental de uma coisa concreta ou abstrata, com o fim de transmitir informação pessoal ou de conteúdo modificativo de uma realidade já concebida. A ideia, portanto, é uma maneira particular de se ver as coisas em forma de opinião, conceito ou juízo, o que pode conduzir a uma descoberta, invenção ou criação, no mundo da realidade concreta. Ela está ligada à memória, ao conhecimento e, em alguns casos, à “ideia adventícia” que, segundo Descartes, provém de coisa exterior ao espírito. (intuição).
Está aí o primeiro passo para entrarmos no complexo mundo da ideologia. Termos uma ideia (noção) do que seja ideia.
(...)
Como cada ser humano, ao apreciar um determinado fato ou analisar situações que constituem episódios excepcionais, ou mesmo de rotina, o faz segundo característica própria e dentro de um universo que engloba grau de cultura, situação sócio-econômica, intimidade com o fato apreciado ou analisado, isto vai propiciar maior ou menor embasamento ao formar uma opinião. Esta seria a situação normal, racionalmente correta. Mas aí entra o interesse, que se transforma em alicerce de todas as situações que compõem as estruturas das sociedades.
Daí as divergências de concepções doutrinárias, aglutinadoras de opiniões que se identificam. Ao tomarem formas e se consolidarem como causas concretas, estas concepções (conjunto de ideias) vão se transformar em ideologia. Esta, apesar do complexo universo que a caracteriza, com teses e mais teses consubstanciadas em vasta literatura — por si só capazes de formar uma biblioteca — e em permanente confronto com outras ideologias, acaba-se amesquinhando no mundo do interesse, formando militantes políticos, abandonando o seu conteúdo filosófico, como fora inicialmente idealizado. Estribada no racionalismo, desviou-se dele e enveredou-se para o anarquismo.
A ideologia é, por assim dizer, a cartilha que fundamenta sistemas idealizados para administrar a vida em sociedade. Assim podemos apontá-la como arcabouço da política.
Norberto Bobbio, Nicola Metteucci e Gianfranco Pasquino, em seu “Dicionário de Política”, em vasto texto, discorrem sobre a dualidade conceitual do termo, atribuindo ao mesmo um significado fraco e um significado forte. Eis uma pequena mostra: “No seu significado fraco, ideologia designa o genus ou a species diversamente definida, dos sistemas de crenças políticas: um conjunto de ideias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como função os comportamentos políticos coletivos.”
“O significado forte tem origem no conceito de ideologia de Marx, entendido como falsa consciência das relações de domínio entre as classes, e se diferencia claramente do primeiro, porque mantém, no próprio centro, diversamente modificada, corrigida ou alterada pelos vários autores, a noção de falsidade: “A ideologia é uma crença falsa.”
Marx partia do pressuposto de que a falsidade da ideologia residia na relação de domínio entre as classes sociais, portanto, estava voltado para uma utópica igualdade. Diante dos radicalismos com que se enfrentaram no decorrer do século XX — comunistas e democratas (esquerda e direita) — e com o desmonte da URSS em 1991, houve um espaço a ser ocupado. Falava-se, inclusive, que não mais haveria espaço para enfrentamentos ideológicos. Estava sepultada a “guerra fria”, onde a bipolaridade de poder e força cediam lugar à hegemonia dos Estados Unidos. Foi a partir daí que o poder econômico passou a dominar o mundo e impor regras rígidas ao mercado financeiro, que absorveu o poder político e instalou uma “democracia” do capital, com nome de globalização. Com isso iniciou-se uma campanha contra o Estado nacional, atacando a soberania e promovendo um desencanto nos valores nacionais. Não se pode ignorar que, com o vácuo proporcionado pelo enfraquecimento do comunismo, outras ideologias, de natureza étnica, religiosa e cultural, até então contidas pela guerra fria, passaram a ocupar espaço e extravasaram recalques e injustiças reprimidas ao longo dos tempos. As explosões de ódio se fazem presente no mundo todo e se traduzem em atentados terroristas e movimentos de rebeldia à ordem global, criando-se um clima antiglobalizante. Os atentados terroristas em Nova York e Washington atestam este caótico sistema internacional.
Daí deduzimos:
O mal das ideologias está nos excessos e não nas carências. A confiança desmesurada na possibilidade do domínio global, pela conjugação do poder econômico e bélico, criou condições para uma reação dos dominados. A falsidade ideológica não permite enxergar as várias realidades neste mundo de Deus e, tão pouco, admitir pontos positivos de opositores. Tanto capitalismo quanto socialismo tem pontos positivos e negativos. Muito depende, para balanceá-los, a disposição de um diálogo convergente, capaz de criar ambiente seguro à revisão de sistemas doutrinários, e não ideológicos.
Os militantes de ideologias radicais se apegam ao falso conceito das “verdades absolutas” e, com isso, não se predispõem sequer a dialogar no campo das ideias, com qualquer proposta que possa contrariar seus preceitos pétreos. Na defesa de princípios dogmatizados usa-se a tática da intolerância e do arbítrio. Tornam-se senhores do mundo e, daí apregoa a luta até a morte para impor ponto de vista sustentado em falsos pilares, sobretudo ideológicos e religiosos.
Nos dias de hoje, diante de tantos pontos conflitantes, o mundo, mergulhado numa falta de perspectiva, exige uma inevitável aproximação entre forças antagônicas, sob pena de mergulhar em uma “noite de trevas”, após confronto bélico apocalíptico. Clama por um desarmamento dos espíritos e pela volta do diálogo, em pé de igualdade. Isso está presente nas constantes frentes pela paz, no mundo todo.
  Os ideólogos são teóricos da convivência em sociedade. Infelizmente, as mazelas sociais têm sido apreciadas como saborosos repastos, compostos de variadas iguarias. O paladar é a tendenciosidade dos formadores de opiniões, que desfrutam de um prazer degustativo, ao apreciar pratos tão indigestos. 

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