(Trigésima Sexta Comunicação)
Nós, um pouco mais avançados em
idade, vivenciamos e estamos assistindo a um processo de transformação
inqualificável. A partir da 2ª Guerra Mundial, o mundo vem se transformando a
cada momento. A globalização deu o chute inicial. Começava aí uma época de
revogação de velhos tabus. As tradições e costumes cederam lugar a um
tresloucado consumismo que, acompanhando a onda inovadora da tecnologia e da
nanotecnologia, modificaram por completo as necessidades básicas da população
mundial. Os meios de comunicação tornaram-se instantâneos e visuais. A economia
das nações foi completamente engolfada pela economia do mercado global. O que
acontece no fim do mundo — se é que o mundo tem fim — abala ou desestrutura as
economias nacionais.
Mas tudo na história das
civilizações tem o seu reverso. O que se planta colhe. O espantoso progresso das
ciências e o início do vertiginoso boom no campo diversificado da informática
proporcionaram uma indescritível transformação, motivo de uma virada histórica
inédita: da ocupação artesanal e mecânica ao incremento de uma inteligência da
matéria a cada dia mais aperfeiçoada. Está aí a robótica para comprovar.
O ser humano, sem se perceber, vai
aos poucos sendo invadido na sua privacidade, tolhendo a sua liberdade, hoje,
artigo de luxo. O controle da sua vida é total, pois está constantemente
vigiado pela “inteligência artificial, ou virtual”.
A realidade é o que é. Ou deveria
ser, não fosse ela observada, movida e propagada pelo interesse de cada um de
nós, bem de acordo com a nossa personalidade. A coisa mais comum neste mundo é
distorcer os fatos e adaptá-los segundo as nossas necessidades, sempre falseadas
pelo interesse. A nossa convicção, portanto, é maleável e se reveste com a
roupagem do orgulho, da vaidade, do egoísmo e da inaptidão em se sentir
disposto a abrir-se ao diálogo na busca de um consenso. A formação cultural e
religiosa dos povos, em geral, no que se refere a assuntos vocacionais, ou
filosoficamente assim considerados, portanto, de múltiiplos pontos-de-vista, infelizmente
se fixam no interesse e raramente na racionalidade. Por isso não se perde tempo
em verificar, ainda que superficialmente, os fundamentos de seus enunciados:
religião e tantas doutrinas tidas como filosóficas, sempre se guiam por
princípios próprios, criados segundo crenças de seus ídolos (padroeiros, reis,
chefes tribais, sacerdotes e guias carismáticos) que os sustentam. Os
argumentos são circunscritos às raízes perdidas no tempo, segundo pensamentos
ditados pelas circunstâncias do momento histórico: são as religiões e seitas,
deístas por natureza, gnósticos, agnósticos e os que se dizem indiferentes, ou
ateus, pessoas que querem agradar a todos e acabam perdidas no cipoal das
indefinições. Por fim, os irenistas, que enxergam os pontos comuns nos mais
variados credos, respeitando a todos sem a pecha discriminatória,
preconceituosa e exclusivista, com as suas verdades próprias, características
que distinguem essas instituições religiosas.
Não é fácil enquadrar-se entre estes
últimos, mas respeito e admiro a intenção de pacificar ânimos irascíveis e
enxergar em todos os credos a busca de uma elevação espiritual, com a única
certeza, a de que morreremos um dia e iremos para um lugar comum, de acordo com
os méritos acumulados, e não pela posse de bens materiais. Isso nos dá muito
que pensar.
Ainda bem que esta semana não tivemos fatos assim tão
deploráveis que merecessem atenção especial, embora a violência ande solta e a
corrupção não dê trégua. Assim, pude dispor de tempo para voltar a um tema por
tantas vezes abordado. Para isso dediquei este espaço para falar de uma
fantástica transformação, embora nem todos se dediquem a uma reflexão sobre o que
presenciamos no momento. Por isso falei de religião e de cultura, com
comentário sobre o irenismo, uma maneira de conciliar pontos de vistas de
outros credos religiosos.
Assim, chegamos ao ponto de demarcação dos limites
entre o real e o místico. Por mais lucidez que nos predispuséssemos tratar de
palavras com significados quase que antagônicos, realidade e misticidade, seria
difícil explicar na prática a similitude que há entre os dois vocábulos. No
caso presente não há como contestá-los. Mas há fatos que, embora previstos ou
vistos em decorrência do desenrolar de previsões, nem sempre aceitas, ainda
merecem esclarecimento à parte, por se tratar de uma realidade vivenciada. Teimosamente
volto a repetir o que já deixei claro em outras ocasiões. Mas, na certa, nem
todos tomaram conhecimento de tais fatos.
Como tenho referido insistentemente ao longo deste
Blog, vim a escrever uma coletânea de três livros, Mosaicos da Sociedade Brasileira, na década de 1980, para uma época
vindoura, sem precisão de datas, mas com acontecimentos explícitos. É uma velha
história registrada em livros. De um modo vago afirmo que este tempo chegou.
Seria coincidência demais comparar o que hoje acontece com as sugestões ali postas.
Aqueles livros pouco se referiam ao ambiente de então, pois se destinavam a um
futuro que demandaria espera, sem precisão de datas. Não se trata de obra
literária e nem se prende a teorias, mas de sugestões comprometidas com uma
realidade que só seria desvendada com o passar do tempo. Traz análises e
sugestões práticas. São propostas aptas a serem implantadas, mas para isso é
necessário a união de forças para
verificar, à luz da realidade presente, a eficácia dos temas metodicamente
abordados, sob três títulos: Problemas Institucionais e Sugestões, Problemas
Sociais e Sugestões, e um novo regime de governo, Sociocracia, com sugestões para se implantar um novo sistema
econômico, Sociocratismo, adaptado
como um mecanismo de sustentabilidade da Sociocracia. Uma coisa é preciso que
fique clara: trata de uma transformação em profundidade que, certamente,
modificará estruturalmente o Estado democrático vigente, pois a própria
democracia será repensada. Ela não mais suporta o peso de tanta hipocrisia. Por
isso a união de propósitos é tão importante.
Não falo por mim, falo por todos nós. Brasil acima de
tudo.
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