(Trigésima
sétima Comunicação)
É notório que vivenciamos uma época
de transformações profundas. Não é fácil e é até mesmo arriscado tentar
descrever o que se passa atualmente, mas os relatos que nos conduziram até
aqui, exigem este procedimento. É necessário conjugar presente e passado para
construirmos projetos para o futuro. O ano de 2013 deixa um rastro
preocupante, justamente por ter sido um ano atípico. Mesmo com tantos
desencontros, por decepção de muitos, o mundo continuará com os mesmos
problemas de sempre. É característica da humanidade o ambiente de pessimismo de
uns, contrariando o otimismo de
outros, deformando o sentido do que seja a realidade.
Vivemos um tempo de
indefinições no que se relaciona com o modo de viver, de se relacionar e formar
opinião sobre a vida que levamos e, isso, em todos os setores que envolvem a
dinâmica do progresso material, em que as sucessivas descobertas e o constante
aperfeiçoamento dos meios de comunicação, principalmente, fizeram com que tudo
girasse em torno da indústria do prazer e da vida sem sacrifício, do excesso de
ocupação mental, do entretenimento ilusório ou ficcionista, da luxúria, enfim,
na satisfação pessoal, centrada na obtenção do ter, contrapondo-se a
necessidade do ser.
Nessa condição de vida que incentiva
o consumo do supérfluo, num mundo dos contrastes abismais, é que se impõe o
dever de voltarmos introspectivamente para o nosso íntimo, no âmago da nossa
consciência adormecida, antes de integrarmos ao que se passa no mundo exterior.
Não se trata de um exame de consciência, mas uma maneira de nos despertarmos
para outras realidades retidas e contidas nas dobras do tempo, produto do
egoísmo e da auto-satisfação, em que se cultiva e colhe o que se plantou.
Citemos alguns produtos desta safra:
os vícios de toda ordem, a violência, a desarmonia, o medo, a intolerância e a
vingança, que tentam responder aos apelos da irracionalidade do orgulho cego e
inconsequente. Estamos cada vez mais nos afastando da fraternidade universal,
uma quimera cada vez mais distante. Continuemos
com esta deplorável safra, no que diz respeito à sociedade Estado. O que se
passa em nosso País merece ser apreciado:
Um dos marcos relevantes que deixará sinal saliente na
história contemporânea refere-se ao ambiente político-jurídico, com o
julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dos envolvidos no “mensalão”,
uma complexa rede de corrupção composta por políticos e autoridades, com raízes
nas instituições financeiras, particulares e estatais, patrocinados por
partidos políticos. Pela primeira vez, graças a alguns ministros patriotas que
tentam dar o basta em tanta bandalheira, intrépidos defensores da moralidade
pública, a história foi escrita de maneira bem diferente do que se previa. Este
julgamento expõe um estado de podridão a que fomos conduzidos. Infelizmente,
para o ano de 2014, muitos desatinos ainda podem ocorrer.
Um fato digno de se lembrar é a comemoração da
proclamação da Republica: 15/11/1889 à 15/11/2013, 124 anos. Feriado nacional, ou dia de recesso? Pouco se
ouviu falar na data. Mas, em compensação tivemos surpresas, como a expedição de
12 mandados de prisão pelo presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, dos já
condenados com sentenças irrecorríveis na ação penal 470. É melancólico
presenciar, pela televisão, atos de constrangimento a que foram expostas
renomadas ex-autoridades.
Repassemos alguns fatos marcantes da
República nestes 124 anos.
O que tem de relevante durante este tempo? Este
período teve de tudo um pouco: golpes de estado com deposição de presidentes
(1930 e 1964), renúncia de um Presidente, ditaduras, suicídio de Presidente da
República, participação na segunda Guerra Mundial, Intentona Comunista,
movimento integralista, revoluções, Presidente deposto pelo voto,
constitucionalmente, tudo isso num contexto de ambiente político instável e
passageiro. Acrescentem-se duas guerrilhas, urbana e rural (Araguaia), com
furtos de armas e munições em quartéis, bloqueio de estradas, ocupação de
fazendas (MST), seqüestros de autoridades, distúrbios em aeroportos, inúmeros
assassinatos, bomba e morte em quartel do Exército, e uma infinidade de atos de
terrorismo levados ao extremo pelo fanatismo de uma ideologia que estaria
fadada ao desmonte, com a fragmentação da União Soviética. Os “aparelhos”,
residências provisórias dos combatentes, para viverem na clandestinidade,
atestavam o grau de comprometimento com uma causa dirigida do exterior, países
que preparavam os combatentes com treinamentos altamente aperfeiçoados na arte
de desestruturar o Estado. É bom que se diga que terrorismo e tortura são atos
igualmente detestáveis. O convite ao esquecimento veio através da lei da
Anistia. É pena que a esquerda ideológica, através das Comissões da Verdade, só
visa a um dos lados, justamente o responsável pela segurança e manutenção da
ordem, e não daqueles que foram as causas lamentáveis por tudo que aconteceu. Ainda
é tempo de mudar de rumo.
Mas também tivemos período de transformações
profundas, com a mudança da capital da República para o Planalto Central, o que
ensejou o desbravamento de novas fronteiras agrícolas, a industrialização e a
inclusão do País no fantástico mundo globalizado, onde a tecnologia modificou
hábitos e facilitou a vida de alguns privilegiados. Enfim, o reconhecimento de
que o futuro sempre sonhado, até que enfim, havia chegado.
Mas a República tem uma história mais elástica. No
início era a Republica dos sonhos, depois a Velha República e a Nova, a seguir.
Já agora, depois de tantas investidas e mudanças, estamos vivenciando o período
da intolerância e da vindicta. Às vésperas da comemoração de mais um 15 de
novembro, em pompa de grande feito, os restos mortais do ex-presidente João
Goulart foram transladados de São Borja-RS para Brasília. Até aí, nada demais.
A urna depositária do esqueleto, simbolicamente, personalizava o Presidente,
sendo carregada solenemente por militares das três Forças Armadas, ao som do
Hino Nacional e salva de 21 tiros de canhão. Ali estavam presentes a Chefe do
governo, ex-presidentes da República, autoridades civis e militares. A data
escolhida para o evento, coincidentemente, era véspera do feriado da
proclamação da República. A exumação dos restos mortais, após 37 anos, será
periciada para possível comprovação de morte por envenenamento. Qual seria a
causa de tanto tempo assim?
Com tantos fatos que só aumentam o
clima de hostilidade destinado a fomentar a desarmonia e implantar
ostensivamente o clima de revanchismo, em véspera de eleições, pode tornar-se
mais um ingrediente explosivo. Ao invés de reverenciar a data cívica e pacificar
os ânimos, levanta mais uma bandeira contra a já combalida República.
As ideologias buscam impor-se por
meios velados do convencimento, em ousadas práticas do marketing do poder
absoluto, disfarçados em bons parceiros e desinteressados no que, na verdade,
se pretende.
Até parece que estamos prestes a dar
o “último suspiro”.
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