(Comunicação quadragésima
oitava)
Após as reflexões dos dois últimos artigos, volto a
comentar sobre a realidade dos nossos dias.
As crises, médias ou pequenas, estão presentes em
todos os setores da sociedade. Poucas pessoas, nesta avalancha de informações à
disposição do público, perdem o seu precioso tempo em apreciá-las como coisa séria.
Com o passar do tempo estas crises tornam-se irremediáveis. É o que estamos
presenciando no momento. Tudo indica que vão se repetir, sempre com maior
intensidade, pois continuaremos a não perder o nosso precioso tempo. São muitos
os motivos que denotam o aprofundamento das crises e mantém aceso confrontos
permanentes. Algumas citações são essenciais, pois dizem respeito à formação da
nacionalidade. Citemos a democracia como exemplo.
A democracia deixou de ser um regime de governo ideal
para praticar a liberdade com vista ao bem-estar-social, e descambou-se para o
confuso mundo da hipocrisia e da falsidade, com interesses forjados no
labirinto de uma ideologia maquiada. Ultrapassou o limite do direito para
ingressar no campo minado da licenciosidade, da irresponsabilidade e devaneio de
um consumismo, sempre ávido de aproveitar as delícias da vida, sem a
contrapartida do trabalho honesto.
Os absurdos envolvendo o desmanche institucional do
Estado e a natural decomposição da sociedade, provêm da falsidade ideológica
arquitetada para fragilizar a democracia. No nosso caso específico, vem se
tornando comuns os propósitos em andamento para que isso se concretize.
Seguindo as pegadas dos últimos acontecimentos, vejamos mais um enigmático
atrito entre os Poderes da viciada República, entre tantos outros já vistos.
Antes, porém, algumas linhas dedicadas ao
carnaval. Não podemos esquecer de que estamos
sob a batuta do rei Momo. O seu reinado é de alegria. Ao embalo do ritmo
alucinante dos clarins e dos tamboris, dos tambores, dos reco-recos e das
cuícas, o momento é convidativo para desligarmos de problemas. Portanto, como
introdução ao que iremos comentar a seguir, algumas palavras sobre esta
monumental festa, outrora popular, hoje, transformada em atrativo turístico.
Como mudam os tempos! São quatro dias, ou mais, em que aqueles que vivem em
função do carnaval, ou gostam da folia, vivem o ano todo aguardando por estes poucos
dias, momentos sempre inesquecíveis. É tempo de entregar-se de corpo e alma ao
reinado de Momo. Para quem prefere ficar em casa, o desfile das Escolas de
Samba é um espetáculo a parte. Ali está presente a alma do povo, retratado no
luxo e arte inefáveis.
Mas nem todos pensam assim: há os indiferentes e até
aqueles que odeiam o carnaval, para eles, época em que “o diabo anda solto”.
Outros procuram no recolhimento um lazer diferenciado, fugindo para locais
afastados em busca do reabastecimento das energias, já desgastadas. Outros mais
se recolhem em retiros espirituais, invertendo o sentido da promiscuidade sem
limites do corpo, para voltar-se às atividades espirituais, segundo os
preceitos de seus credos religiosos.
Seja como for,
o carnaval recompõe as energias e não deixa de ser um lenitivo para o
prosseguimento da vida, uma realidade inquestionável.
Este ano,
porém, há algo mais a comentar, ou a lamentar, sobre o estado das fragilidades
institucionais. Agora o quadro é mais grave, pois envolve os poderes da
República, já com tantas mazelas expostas e alvos de continuadas críticas,
apontando sempre para novos descalabros. Desta vez iremos comentar sobre o
julgamento dos Embargos Infringentes à Ação Penal 470. O resultado, pelo que
tudo indicava, já era previsto, por se tratar de um julgamento
político-ideológico. Aqui é que está o “X” do problema. Como preliminar a um
pequeno comentário sobre o episódio em pauta, reproduzo as palavras de desabafo
do presidente do Supremo Tribunal Federal, Min. Joaquim Barbosa:
“O resultado do julgamento dos Embargos Infringentes
lançou por terra todo o trabalho primoroso levado a cabo por esta Corte no
segundo semestre de 2012.”
“Sinto autorizado a alertar a nação brasileira de que
este é apenas o primeiro passo para continuar uma ‘sanha reformadora”. “Esta é
uma tarde triste para o STF. Com argumentos pífios, foi reformada, jogada por
terra, extirpada do mundo jurídico uma decisão plenária sólida, extremamente
bem fundamentada, que foi aquela tomada por este plenário no segundo semestre
de 2012.”
Este desabafo, pronunciado por quem sentiu a presença
de uma ardilosa trama arquitetada pela influência, para não se dizer interferência,
do Poder Executivo, que empregou a sua força demolidora político-ideológica,
para abalar os alicerces que dariam sustentação ao Poder Judiciário. As
palavras do Min. Joaquim Barbosa, na certa, são de todos nós que sentimos uma
realidade que se oculta no exercício dos Poderes da República, ostensivamente
planejados e executados segundo orientação do Foro de São Paulo.
Se bem observarmos, pelo que presenciamos no momento,
há necessidade de se proceder a uma reforma geral e não parcial, pois as
instituições compõem um conjunto de atividades que se completam e interligam em
direção a um todo indivisível, o Estado federativo. A Bíblia é rica em
ensinamentos que apontam a prudência como essência da perfeição. Em (Mt.7: 25)
e (Lc 6: 48) há um relato sobre a construção de casas, uma sobre areia e a
outra sobre rocha. A primeira foi destruída por completo devido a uma
tempestade, “sendo grande a sua queda.” A segunda permaneceu firme sob os
efeitos das intempéries.
Comparativamente, a casa que abriga as instituições, o
Estado Republicano, submetido aos rigores das atuais ameaças quanto às
precariedades de funcionamento, estão a exigir uma total reforma, ou mais do
que isso, ser reconstruída a partir do seu alicerce, a desgastada democracia,
sob pena de vermos uma provável “grande queda.”
O que venho procurando esclarecer, embora pareça coisa
de louco, é a transparência de pontos essenciais para reformulação do que se
encontra em estado de anomia bastante avançada. É pena que estes comunicados
não tenham partido de pessoas credenciadas, aquelas que detêm o poder de
decisão. Por isso sinto-me tão pequeno e impotente para tamanha tarefa missionária,
a de escrever livros destinados a dar um rumo ao País, em época de profundas
transformações. O que me dá ânimo para prosseguir são as coincidências que têm
acontecido durante tanto tempo. Se a mim foi confiada uma tarefa missionária,
não tenho o direito de ficar dimensionando obstáculos ou mesmo condições para o
seu cumprimento. O compromisso assumido não me dá direito de falhar. Há sempre
uma força maior que tem suprido as minhas naturais deficiências. Disso não
tenho dúvida.
Entre ser alvo de crédito ou descrédito, preferi
simplesmente ser autêntico.
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