Quinquagésima primeira
comunicação
Na
visão de especialistas a reforma administrativa é tão ou mais importante do que
a reforma política. Mas essa não se reverte em votos. As reformas que se
propõem estão mais propensas a chamar atenção do mundo, ou voltadas para
interesses classistas, ideológicos e políticos, do que para as reais
necessidades de reconstruir o Estado, contemplando a todos os cidadãos o
direito de gozar dos benefícios essenciais ao bem-estar social. Como exemplos,
alguns serviços básicos: saúde pública, educação, moradia, transporte e segurança.
Portanto, o desenvolvimento necessariamente deve corresponder às necessidades
das populações, tendo como alvo o processo de integração ao conjunto tido como
nação, um povo com identidade própria e disposição para manter elos históricos
consagrados nos usos, costumes e tradições. Para isso é urgente que se pense
num combate sério à miséria. É bom lembrar que o pobre não faz greve pedindo
aumento de salário, mas pode engrossar os movimentos contestatórios, a grande
esfinge da atualidade.
Muito se fala sobre reformas, porém, poucos apontam o
que deve ser reformado. Reformar o que? Por quê? Como? Quais os fundamentos
básicos a serem observados? As propostas, na maioria das vezes, se perdem na
prolixidade de citações de teorias comprometidas com padrões que não
correspondem a nossa realidade. São ricas de “cultura enlatada” e paupérrimas
em soluções práticas. Muitas vezes a simplicidade das sugestões contraria a
complexidade que denotam avanços não compatíveis com a nossa realidade, ou vão
de encontro a interesses políticos, ideológicos ou econômicos. Nestes casos são
descartadas de imediato. A continuar como está, estaremos sempre mergulhados em
eternas crises. Isso nos parece óbvio.
Nunca é por demais lembrar que os
três livros, Mosaicos da Sociedade
Brasileira, tratam de assuntos pertinentes a composição do Estado, sob os
pontos de vista institucional, econômico e social. Genericamente falando,
diríamos que ali estão alguns dos assuntos mais prementes nos dias de hoje.
Apesar do tempo em que foram escritos (década de 80), tudo faz crer que se
destinariam aos nossos dias: regime de governo, sistema econômico,
representação política, um novo municipalismo, saúde, educação, segurança pública,
assistência social, política salarial, composição dos poderes da República,
inclusive com uma opção monárquica, além da República, em que são vistos pontos
negativos que caracterizam a Independência dos poderes, com abordagem do que
vem a ser interdependência, e muitos
outros assuntos relevantes.
Quanto a Segurança Pública, uma citação apenas:
atualmente defronta-se com problemas correcionais agudos e cumulativos, como o
abrandamento irresponsável na aplicação e cumprimento das penas, o que
incentiva a prática reiterada de crimes. A legislação e o modo de encarar a
realidade não são observados como meios de coibir práticas ignominiosas
destinadas a proteger a segurança do cidadão honesto e pacato. Preocupa-se mais
com ‘os direitos humanos’ dos criminosos do que com os da população, que se
sente desamparada e amedrontada. O que dizer de um sistema penitenciário que
não suporta a demanda de vagas, constituindo-se outro motivo que merece atenção
especial. O sentenciado tem de ser tratado como gente, e não como animal, sem
regalias, nem regimes discriminatórios. O que dizer dos crimes praticados por
menores? Aqui temos certeza de uma coisa: quando a lei é branda e inócua para
os crimes praticados por menores, com total complacência dos “direitos
humanos”, a morte como revide passa a vigorar. É assustador o número de
assaltos praticados por menores e o consequente revide como reação dos
assaltados. Se o estado é omisso, as vítimas passam a agir por conta própria, a
seu modo. O linchamento e métodos de tortura, em muitos casos, têm sido
praticados pela própria sociedade. Isso é preocupante!
Estamos diante de problemas já tidos como insolúveis.
A hora é de se dar novo rumo ao País. Temos sugestões escritas em época já
distante, no que tudo indica, para os tempos atuais. Citemos alguns textos que
compõem os Mosaicos, no que diz
respeito às sugestões ali apresentadas:
“Diante de um problema uma coisa é óbvia: o primeiro
passo é tomarmos conhecimento de seu enunciado e em seguida selecionar os dados
que nos permitam o seu equacionamento. Pois bem, no caso presente, quando
pretendemos abordar assuntos pertinentes à sociedade brasileira, ainda que os
dados a serem manipulados sejam vagos e discutíveis, sobretudo nas áreas socioeconômica
e política e, como tais, sujeitos a erros e enganos, podendo ainda variar com o
tempo e espaço físico, vamos concebê-los genericamente e, a seguir, tratá-los
especificamente.”
“São propostas que emergem naturalmente como
consequência das distorções apontadas nas várias atividades que compõem as
instituições democráticas, pelo visto, em vias de decomposição. No bojo das
propostas, no Mosaico III, é
apresentado um campo novo, redimensionando, redirecionando e imprimindo uma
dinâmica capaz de aperfeiçoar as débeis bases de sustentação do Estado: a
Sociocracia e o Sociocratismo. Este novo campo surge do aperfeiçoamento e não
do aniquilamento estrutural do Estado. Assim, as instituições sociocráticas hão de compor uma nova ordem
sócio-político-econômica, onde o liberalismo se adapta ao social, numa simbiose
em que os dois vetores convirjam para um único objetivo: dignificar o homem
horizontalmente, fazendo com que a prática da liberdade não sirva de estorvo
para a vida em sociedade.” “Social-liberalismo? Não. A doutrina sociocrática é
muito mais abrangente. Visa à criação de um estado de direito, onde o
nacionalismo ufanista cede lugar a um nacionalismo real, sustentado na
operosidade de um povo que almeja uma nação próspera, independente e soberana.”
Voltar aos primórdios das tentativas para implantar o
comunismo, com experiências que não prosperaram em épocas não muito distantes,
é correr o risco de repetirmos os mesmos erros de outrora, sempre lembrados e
nunca levados a sério. Continuamos na velha mania de não considerarmos as
investidas tantas vezes tentadas, para implantação de uma ideologia contrária
aos interesses nacionais, em tempos não muito distantes. Ignoramos que estamos
sendo conduzidos a uma situação de caos. Até quando?
Estamos ou não diante de um quadro escabroso das
contas do governo: fala-se em austeridade e abrem-se os cofres para gastos com
aliados políticos ou “companheiros ideológicos”, daqui e do exterior, com obras
que nada têm a ver com as nossas necessidades básicas. Internamente, a
necessidade é outra: que satisfaça a surrada e antiga regra pão e circo! A lei
de Responsabilidade Fiscal pode tornar-se letra morta.
Viver um
ideal é lutar no presente à sombra do passado, voltado para um futuro incerto,
mas fortalecido pela crença de que tudo é possível. “Viver é lutar”.
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