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Democracia e Sociocracia


                                                                              (quadragésima nona Comunicação)

No artigo anterior, muito sucintamente, nos referimos à democracia naquilo que deveria ser e no que é na atualidade. Vejamos o que se encontra ali:  
“A democracia deixou de ser um regime de governo ideal para praticar a liberdade com vista ao bem-estar-social, e descambou-se para o confuso mundo da hipocrisia e da falsidade, com interesses forjados no labirinto de uma ideologia maquiada. Ultrapassou o limite do direito para ingressar no campo minado da licenciosidade, da irresponsabilidade e devaneio de um consumismo, sempre ávido de aproveitar as delícias da vida, sem a contrapartida do trabalho honesto.” 

Como estamos propondo um novo regime político, a Sociocracia, como corretivo e aperfeiçoamento ao que até então era julgado como insubstituível, senti a necessidade de tecer alguns comentários que justificassem uma sugestão tão ousada. São vícios que foram indelevelmente entronizados no sagrado templo da democracia, enxovalhando princípios básicos que prevaleceram por tantos séculos.
De todos os males que nos atingem diretamente no comportamento social, numa derrocada dos costumes refletindo em vários setores, o que denota uma inversão dos valores morais, a corrupção, que sempre andou solta, ultimamente vem sendo apontada como o mais terrível mal a ser combatido. Certo, mas...
A insatisfação exposta nos constantes movimentos de rua, com pleno apoio de uma sociedade passiva, até agora, têm apontado vários desarranjos sociais. Citemos a corrupção como exemplo, já que ela está em moda: A corrupção não é causa, é efeito. Resulta da insuficiência de valores morais que foram jogados por terra, justamente para sustentar interesses e privilégios que entronizaram nos poderes da República, ou das republiquetas, através de artifícios eivados de interesses que beneficiariam as classes sociais representativas do povo, que foram capazes de apoderar-se do único poder original: o poder absoluto. Mas hoje não há mais condições para o absolutismo. Será mesmo que não há? Ou se trata de uma realidade maquiada, de fundo populista? Desta inominável realidade deduz-se que o absolutismo desgastou-se, tendo em vista os absurdos sempre aperfeiçoados, praticados pelos detentores do poder. Desgastou-se, mas não desapareceu. A luta que se trava nos bastidores é justamente para abocanharem-se migalhas deste monstro invisível, e não para combatê-lo. É a história que nos ensina.: Desta inominável realidade é que surgiram as castas sociais e, mais recentemente, o antagonismo das classes sociais, sempre com o objetivo de apoderar-se do poder. Os mentores das lutas de classes, aproveitando-se de forças ainda não despertadas — como a maioria populacional das classes mais pobres, a miséria, o analfabetismo e o trabalho necessário para promover a riqueza — ainda em teorias não agrupadas, construíram doutrinas que pareciam infalíveis e passaram a debatê-las no campo fértil da inteligência codificada. Assim surgiram a tirania, a monarquia parlamentarista, a República, a Democracia, os sistemas econômicos e as várias classificações de regimes políticos, sempre concebidos por uma classe elitizada.     
A Democracia, como regime político “do povo para o povo” é uma demonstração genérica, e mais do isso, abstrata, para se fazer presente na condução do Estado/Nação, uma denominação que deveria representar o “povo, politicamente organizado.” Aqui vem outra verdade: A democracia se sente combalida e ameaçada por regimes autoritários e populistas. A hora é de se pensar em corretivos sérios.     
            Muito tenho falado sobre uma coletânea de três livros, Mosaicos da Sociedade Brasileira, que se destinariam a um tempo futuro e incerto quanto a datas, mas explícito quanto aos acontecimentos. Também já me referi quanto aos fatos que apontariam este momento, muito parecido com o que está acontecendo na atualidade. Ou ainda está para acontecer. Tomo a liberdade de transcrever alguns tópicos da “Apresentação” aos Mosaicos da Sociedade Brasileira, retirados do primeiro volume dos Mosaicos, que podem esclarecer algumas dúvidas quanto ao que se destinam aqueles livros:
                “Vivemos uma época de grandes definições. O momento de expectativa já está sendo ultrapassado. Não obstante julgamos que na atual conjuntura nacional, para que possamos ir ao encontro de auspiciosas perspectivas, temos de transformar as atuais estruturas de nossa sociedade. Com vista a esse alvo, aparentemente inacessível, é que idealizamos montar estes “Mosaicos.” ...
... “Estamos diante, pois, de assuntos da mais alta importância e, como teremos o ensejo de ver, por se tratar de propostas inovadoras e que visam mudanças substanciais no sistema estrutural do Estado, apresentar nova dimensão à fisionomia política, administrativa, econômica e social. São “ideias sementes” que devem servir de subsídios a uma transmutação na estrutura dos poderes da República. Tais propostas visam, em seu todo, criar a mentalidade de uma política que se harmonize com os interesses de uma ordem econômica voltada para o desenvolvimento social. Os modelos econômicos são facilmente ultrapassados quando não atentam para esse desiderato. Busca, também, o presente trabalho, criar clima propício ao surgimento de alianças sociais, capazes de realizar uma mobilização de forças que frustre qualquer tentativa de perturbação da sistemática do poder. Estabelece uma profunda descentralização administrativa, mas sob um rígido controle, de modo a se evitar uma trágica fragmentação administrativa.” ...

Como dissemos anteriormente, dadas aos constantes ataques à democracia, é incontestável que ela está a necessitar de uma revisão criteriosa. Para isso, idealizamos o regime político Sociocracia. Como já tratamos do assunto em outros artigos, peço vênia ao dileto leitor que esteja interessado em tomar conhecimento de providências genuinamente nacionais, convidando-o a consultar as comunicações vinte e cinco — Sociocracia - (mês de agosto de 2013), sétima e quarta (mês de março) e décima primeira (mês de abril), onde são vistos o que vem a ser Sociocracia, bem como a que se destina. 
O momento é de se pensar numa maneira de extirpar vícios que impedem dar novos rumos ao País. No estágio atual, não há condições que permitam sequer pensar nesta hipótese, por contrariar interesses daqueles que conseguiram implantar e tirar proveito de um populismo, sem eira nem beira, atrelado a velhas táticas conduzidas por experientes teóricos do quanto pior, melhor. Fala-se muito em democracia. No entanto, pouco se percebe que está sendo conduzida de modo a ser desviada de seus enunciados básicos, governo do povo para o povo, e se transformando numa cômoda maneira de servir de ponte para desmoralizá-la cada vez mais, um bom motivo para implantar uma ditadura do proletariado, com medidas contrárias aos interesses nacionais. Acordemos enquanto é tempo. O diálogo não admite monopólio de ideias.      

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